Nem a Scotland Yard e nem os 11 mil quilômetros que separam Montevidéu de Londres parecem ser obstáculo para o matemático uruguaio Eduardo Cuitiño, que se une a uma lista de investigadores que asseguram terem descoberto a verdadeira identidade de “Jack, o Estripador“.
Stephen Herbert Appleford. Assim se chamava o impiedoso assassino que aterrorizou a capital britânica no final do século XIX, segundo as pesquisas de Cuitiño, autor do livro “Viajando no tempo para prender Jack, o Estripador” (em tradução livre).
Para chegar a essa conclusão, o estudioso realizou, durante dois anos, uma “análise geográfica dos fatos e simulações em computador”, aproveitando a vasta informação oficial que é possível conseguir através da internet.
“Meu interesse é vincular a história com a matemática, tento dar um enfoque matemático às adivinhações e aos mistérios”, explicou à Agência Efe Cuitiño, de 38 anos e professor de Probabilidade e Estatística da Universidade ORT de Montevidéu.
Mas em que baseia sua arriscada teoria? Logo de cara, lembra a velha hipótese de que “Jack” era um cirurgião, como Appleford, e que, além disso, trabalhava no London Hospital de Whitechapel, área onde morreram as cinco vítimas do primeiro assassino em série da história com destaque na mídia, todas elas prostitutas.
Appleford rondava os 36 anos, a idade “de máxima operabilidade de um psicopata”, e tinha um coeficiente intelectual superior à média, também comum entre esse tipo de criminosos.
Era original de Coggeshall (Essex), um povoado cujos habitantes têm fama de estúpidos, o que poderia ter causado um ranço social no assassino. Embora tenha se casado, nunca teve filhos e vivia amontoado em uma casa com suas irmãs. Além disso, tinha uma grande força física, porque na universidade competiu em esportes como remo e natação.
Segundo Cuitiño, o assassino começou a desenvolver suas práticas criminosas após a morte de sua mãe, em 1881. Um ano depois, houve uma tentativa de assassinato que o uruguaio atribui a “Jack, o Estripador”.
Uma mulher foi vítima de um ataque com uma faca pelas costas. O cirurgião foi achado próximo dali e ao ser identificado como médico, teve que atendê-la e elaborou um relatório no qual sustentava que a própria vítima tinha se machucado.
O escolhido por Cuitiño “era canhoto, como o assassino, que cortava as gargantas da direita para a esquerda”. O uruguaio chegou a essa conclusão analisando a caligrafia do médico, inclinada da esquerda para direita, a partir da digitalizacão de uma folha do censo londrino assinada por ele mesmo no início do século XX.
A similaridade entre as duas escrituras foi “confirmada” por um grafólogo da Polícia uruguaia, assegura.
O apoio do Google Maps – o professor de matemática nunca pisou em Londres – serviu para elaborar uma tese geométrica e probabilística em torno do vínculo de Appleford com os crimes, especialmente os dois cometidos na noite de 30 de setembro de 1888.
O sobrenome do cirurgião é escrito com dois “Ps” e em 1895, o médico publicou um artigo no British Medical Journal sobre um pequeno estojo de bolso para levar bisturis como o que o assassino poderia ter usado para não ser descoberto, uma forma de zombar da Polícia, acredita Cuitiño.
Appleford morreu, além disso, em 31 de agosto – a mesma data do primeiro crime – de 1940, aos 88 anos – como o ano das mortes.
“Ele provavelmente se suicidou, rindo da Inglaterra e dos ingleses até no último instante de sua vida”, especula este “Sherlock Holmes” uruguaio, que em dezembro publicará um livro sobre Carlos Gardel, prometendo levantar polêmica na Argentina porque concorda com a tese de que sua terra natal é Tacuarembó, no Uruguai.