Florentijn Hofman e sua equipe montando o Fat Monkey
Créditos: gabriel quintão
Largadão como um brinquedo descartado pelo seu dono, um macaco inflável gigante cravejado de chinelos vai dormir esse final de semana no Parque Mario Covas, um pequeno cantinho público em meio ao arranha-céus da Avenida Paulista. A obra do holandês Florentijn Hofman é parte do Pixel Show, uma conferência internacional e feira de arte e design, onde ele foi convidado vai dar a palestra Size does matter (Tamanho é documento) – apesar do próprio artista chamá-la de Bigger is better (Maior é melhor).
O ARTISTA E A OBEASTITAS
O interventor urbano Florentijn é conhecido internacionalmente pela sua série Obeastitas, que é uma brincadeira com as palavras obesitas (obesidade, em holandês) e beast (besta, fera ou simplesmente animal, em inglês). Nessa série, ele cria animais “obesificados”, como ele mesmo diz. Patos infláveis, coelhos de madeira, e macacos de pelúcia com até sete metros são alguns dos bichos que fazem parte da fauna do artista.
MACACO GORDO
A Opanka, patrocinadora do Pixel Show e responsável pela presença do interventor, liberou 6.072 pares de chinelos para servirem como os pixels do macaco. O Fat Monkey, como Florentijn nos apresentou a escultura, tem braços e pernas compridos “porque os moradores de São Paulo precisam ser assim, balançando de um lado para outro, para sobreviver na selva de pedras de uma cidade grande”.
Ele contou que inspiração para o boneco veio de seus dois filhos, que dormem com macacos de pelúcia. “Quando eles acordam, descartam o brinquedo e o deixam jogado de qualquer jeito, mas na hora de dormir precisam abraçá-lo”, contou. “O mesmo com o Fat Monkey, que é um brinquedo urbano gigante, para uma cidade grande, que o abandona durante o movimentado dia-a-dia, mas precisa o acolher durante a noite”, explica Florentjin em uma brisa forte de artista, mas que faz muito sentido.
Ele mistura um pouco da imagem que os gringos têm do Brasil com a realidade caótica e absolutamente urbana de uma metrópole como São Paulo e faz um carinho – tanto para os habitantes, como para a cidade – permitindo um sono tranquilo e relaxado abraçado na nossa pelúcia, ou passeios no asfalto, com pulos de galho-em-galho (ou de prédio-em-prédio) vestindo nossos tropicais chinelos de pedreiro, também chamados de “flip-flops”, tipo exportação, tá ligado? O animal de 15 metros, um dos maiores que ele já construiu, é tão selvagem quanto tecnológico, tão aconchegante quanto monstruoso. Não é a cara de São Paulo?
EQUIPE APLICADA
O gringo não conseguiria montar a obra sozinho, então um edital foi lançado na internet para os interessados em fazer parte da equipe de ajudantes. Familiaridade com arte, design e comunicação, além de inglês ou holandês fluente, eram os pré-requisitos. Mas o bicho pegou mesmo na hora da disponibilidade de horário.
A coordenadora de montagem Sandra Santos contou para nós que muita gente se interessou, mas como a carga horária era pesada – duas semanas trabalhando em tempo integral, primeiro no QG da revista Zupi e depois no parque – muitos candidatos tiveram que desistir. “Só ficou quem estava disposto mesmo”, comentou. Um dos estudantes-trabalhadores disse que “tem que ser pau para toda obra”, orgulhoso da própria produção.
Entre os alunos de diversas faculdades, em diversos cursos, como design, arquitetura e eventos, foram escolhidos Vitor Araújo, Vinícius Franulovic, Luciano Menezes, Danielle Chamma, Davi Eustachio, Paulo Ottaviani e Leonardo Forgerini, Gabriel Vieira Kolisch, Maria Sol Casal, Diego Ferreira que levantavam braços, amarravam chinelos, empacotavam e desempacotavam caixas na quinta-feira que amaeaçava desabar água.
Mas além do trabalho braçal desenvolvido, eles tiveram a oportunidade de trabalhar junto com um artista renomado. Ele mesmo comentou a experiência com os jovens: “É o que a gente chama de ‘win-win situation’”, falando que todo mundo sai ganhando com uma interação dessas. “Eles estão tendo a oportunidade de perceber a interação com o público e a obra em um espaço público, mesmo durante a produção. As pessoas passam por aqui, comentam, tiram fotos. Essa prática é o que faz com que eles percebam o quão interessante é uma obra produzida e exposta em espaços públicos. Eu amo isso”.
VAI LÁ VER, MACACADA!
Quer entender do que esse gringo megalomaníaco está falando? Passa lá no Parque Mario Covas, que fica na Av. Paulista, 1.853, na esquina com a Rua Ministro Rocha Azevedo. O Fat Monkey é grande e colorido o bastante para ser visto da rua, então os horários do parque não vão fazer muita diferença (6h às 22h). Corre que o macaco pixelado só vai dormir em São Paulo até domingo (17), durante o Pixel Show.