Uma jovem tailandesa, que dois anos atrás fez um comentário no Facebook considerado ofensivo para a monarquia e que foi punida com a prisão, é alvo de uma campanha empreendida na Tailândia em defesa da imagem da Coroa.

Desde então, “Kan-thoop” (Vareta de incenso), pseudônimo que utilizou nas redes sociais, teve que mudar seu nome real, mas mesmo assim foi rejeitada por três universidades após passar pelas provas de acesso e continua recebendo ameaças anônimas e insultos, segundo o jornal “Bangkok Post“.

O caso desta jovem de 19 anos, que também está na mira da imprensa favorável à plataforma ultraconservadora denominada Aliança Popular para a Democracia, ilustra o alvoroço suscitado quando se faz qualquer referência à monarquia tailandesa.

O pesadelo de Kan-thoop piorou em dezembro, quando um site controlado pela Aliança e seus chamados “camisas amarelas” revelou a nova identidade da menina e indicou que havia entrado na Universidade de Thammasat.

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Por conta desta informação, a moça foi novamente objeto de ofensas nos fóruns e redes sociais nos quais não era mencionada desde que, meses atrás, veio à tona que tinha conseguido uma bolsa de estudos para estudar no exterior.

Os comentários divulgados pelas redes sociais sobre sua suposta deslealdade à monarquia contribuíram para exacerbar as injúrias contra ela, que em uma ocasião desistiu de entrar em um centro universitário porque ia ser recebida com protestos de alunos convocadas pelo Facebook.

“Alguns faziam comentários sarcásticos, outros me insultavam. O pior foi quando jogaram um sapato em mim”, explicou Kan-thoop ao jornal “Matichon“, após ser publicado o nome da universidade que a tinha aceitado para estudar Administração.

O rebuliço gerado pela admissão da jovem levou a universidade na qual estuda a dar explicações sobre o motivo de sua decisão.

“Nos enviaram muitas cartas, mas nenhuma prova. Desde o princípio sabíamos quem ela era. A menina passou no exame e decidimos admiti-la. Como castigá-la por algo que cometeu anteriormente?”, explicou à imprensa o reitor da universidade, Somkid Lertpaitoon.

A moça pediu o adiamento da convocação enviada pela polícia para que deponha sobre o comentário que escreveu durante os protestos ocorridos em Bangcoc em 2010 e que causaram 91 mortes e deixaram 1,8 mil feridos.

Caso seja incriminada, a menina se tornará a pessoa mais jovem entre as centenas que foram acusadas até agora do crime de “lesa majestade”, para o qual a legislação tailandesa estabelece penas de até 15 anos de prisão.

O fórum de Presos Políticos na Tailândia estima que cerca de 300 pessoas estejam detidas após terem sido declaradas culpadas pelos tribunais de “difamar, ofender ou ameaçar o rei, a rainha ou o herdeiro do trono“.

Ao mesmo tempo, o governo rejeitou todas as propostas de grupos civis que defendem mudanças nas leis de “lesa majestade”, alegando que essa ação causará um “caos”, e intensificou sua campanha para acabar com as críticas à monarquia, o que levou as autoridades a julgarem inúmeras pessoas por essa causa em tempo recorde.

O articulista tailandês Khong Rithdee, em uma coluna publicada recentemente no “Bangkok Post“, comparou a campanha contra as críticas que o governo recebe com a fatwa (pronunciamento legal religioso) ditada por clérigos iranianos contra o escritor angloindiano Salman Rushdie. 


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Jovem tailandesa vive pesadelo de 2 anos por ofender a monarquia