Samira Ibrahim, a jovem que se atreveu a processar na Justiça a Junta Militar do Egito por ter sido obrigada a se submeter a um “teste de virgindade” após um protesto, conseguiu convencer mais vítimas dessa prática a depor nesse domingo (26) em uma corte militar.
“Convenci outras três meninas cuja virgindade foi examinada pelos soldados a não terem medo e a irem comigo hoje ao tribunal militar para depor”, disse Samira em entrevista à “Agência Efe”.
Após ouvir os depoimentos, a corte militar que julga o caso encerrou a rodada de testemunhos e agendou o anúncio da sentença para o dia 11 de março.
“O juiz que instrui a causa ditará a sentença de acordo ao que está registrado no expediente e de acordo com sua consciência, sem nenhuma pressão”, declarou o presidente do tribunal, general Adel el-Mursi, segundo a agência de notícias oficial “Mena“.
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Quase um ano se passou desde que Samira, de 25 anos, foi levada no dia 9 de março da praça Tahrir para uma prisão militar, onde fizeram nela um teste para verificar se era virgem.
No entanto, o tempo não a fez esquecer o constrangimento, e ela insiste no julgamento dos militares.
Samira lembra que ela e outras 16 mulheres foram detidas naquele dia após participarem de manifestações, e sete delas foram obrigadas a passar por exames de virgindade, realizados pelo médico militar Ahmed Adel diante de vários oficiais, alguns dos quais tiraram fotos com seus celulares.
Os soldados, que ameaçaram acusá-las de prostituição, não deram nenhum motivo para realizar tais testes. Quando Samira pediu para não ser observada por tantos militares, foi agredida.
A jovem descreve o episódio como “a pior experiência” de sua vida. Teve de receber tratamento médico para curar seu corpo das marcas dos golpes e ajuda psicológica para atenuar o trauma.
Em sua opinião, a única razão para os exames era humilhar as manifestantes e “abortar a revolução”, que, segundo ela, contraria os interesses da Junta Militar que dirige o país desde a renúncia de Hosni Mubarak, em 11 de fevereiro de 2011.
Embora em 27 de dezembro um tribunal administrativo tenha proibido a Junta Militar de realizar testes de virgindade, Samira quer levar adiante a luta contra essas práticas.
“Esta decisão não foi suficiente. É preciso punir aqueles que deram as ordens de realizar esses testes e aqueles que o realizaram”, insistiu Samira, opositora independente que foi detida várias vezes antes e depois da queda de Mubarak.
Nos últimos meses, a jovem foi pressionada a abandonar o caso judicial sobre os testes de virgindade, que agora está em julgamento num tribunal militar. “Ameaçaram minha vida, me difamaram, me avisaram que a revolução não ia me proteger e me disseram que sou mentirosa porque sou a única que denunciou judicialmente os testes de virgindade”.
Por este motivo, Samira, cuja luta lhe custou o emprego no comércio, convenceu outras meninas a depor no tribunal e, assim, “derrubar a ditadura militar”.
Na última audiência deste julgamento, a corte ouviu o testemunho de uma funcionária da prisão que negou a realização dos testes, mas Samira alega que ela nem sequer estava presente quando ocorreram.
“Agora, a última investida dos militares é que me acusam de destruir propriedades públicas”, critica Samira, natural do sul do Egito. Ela compara que, por este crime, pode enfrentar uma pena de cinco anos de prisão, enquanto o soldado que lhe fez o exame de virgindade permanece livre.
A jovem, no entanto, garante que a prisão não vai lhe aplacar nem fazer renunciar à luta: “Trata-se da dignidade de todas as mulheres. Não se pode deixar que tirem as roupas das egípcias”.