Uma mulher se tornou obcecada em arrancar os pelos da sobrancelha e conta como este hábito comum se tornou um vicío que deixou marcas permanentes.
Charlotte Starling, de 27 anos, sofre de Dermatilomania, uma compulsão por arrancar peles ou cabelos do corpo. “ Eu faria qualquer coisa para encontrar uma maneira de arrancar todo mdu cabelo. É como se fosse uma droga e eu fosse uma viciada. Eu viro uma pessoa desonesta e desviante, faço qualquer coisa para tentar arrancar meus cabelos e sentir aquela sensação de alívio”, disse ao “Dailymail”.
Essa compulsão deixou as pontas de seus dedos permanente desfiguradas e marcas permanetentes em seu rosto e em seus seios. Ironicamente, tudo teria começado, segundo ela, porque ela queria ficar mais bonita.
“ Eu sempre fui obcecada por fazer minha sobrancelhas. Eu queria a forma certa e passava muito tempo arrancando até mesmo os pelinhos minúsculos para chegar a perfeição. Como todo mundo, eu queria ficar mais bonita”.
Mas sua fixação passou a tomar um rumo perigoso quando sua filha Louise, com 10 anos agora, começou a escola. Aliás, a própria concepção de Louise já se deu de uma forma muito esquisita.
Charlotte tinha apenas 16 anos quando deu luz a sua filha no vaso sanitário. Ela não tinha ideia de que estava grávida e, no meio da noite, quando sentiu vontade de ir ao banheiro, teve o parto. “Eu passei o dia inteiro com a barriga ruim e pensei que podia estar constipada. Quando fui ao banheiro, senti muita dor e de repente ouvi um grito. De repente, me deparei com um bebê. Fiquei tão chocada que gritei e minha mãe veio e pegou a criança”, explicou.
“Os médicos estimaram que o parto se deu com 3 ou 4 semanas de atraso. Sei que as pessoas acham difícil acreditar nisso, mas eu sinceramente não tinha ideia. Eu era muito jovem para reconhecer os sinais”, disse. Charlotte e seu namorado de 17 anos decidiram ter uma vida em família. “ Eu adorava ser mãe. Adorava vestir e exibir a Louise. Ela se tornou minha vida e eu a amava e amo”.
No entanto, os jovens pais se separaram quando a criança estava com 18 meses de idade, e Charlotte conheceu seu atual noivo, Martin Thompson, de 36 anos. “Eu tinha minha menina e meu novo noivo: minha vida estava maravilhosa”, refletiu.
Foi justamente neste período que seu problema começou. Assim que Louise começou a frequentar a escola, em uma manhã qualquer, para manter a calma, Charlotte começou a fazer as sobrancelhas. “Desde que me tornei um adulto, meu trabalho tinha sido, até então, somente cuidar da minha filha. Eu a tinha tido tão jovem que eu não conhecia nenhuma outra forma de vida senão aquela. Então, quando ela começou a ir para escola, eu não sabia o que fazer sozinha e comecei a sofrer de uma ansiedade absurda. Foi aí que comecei a fazer a sobrancelha, para me acalmar”.
Charlotte passou seis horas fazendo a sobrancelha, sem que ela percebesse, e em seguida teve que buscar a filha na escola. “Como eu tinha conseguido passar o dia inteiro sem um ataque de pânico, eu fiz a mesma coisa no dia seguinte. Foi como eu comecei a lidar com a ansiedade. Todo dia eu a deixava na escola e ia direto para casa, fechava as cortinas e começava a arrancar os pelos. Era a única forma de manter meus pensamentos controlados e minha mente calma”.
Quando os pelos da sobrancelha já eram poucos, ela passou a procurar nos seus dedos e depois para outras áreas quandos os dedos sangravam demais. “ Eu era capaz de ficar no mesmo pelo minúsculo por horas. Mesmo ele sangrando, eu sentia muito alívio quando conseguia arrancá-lo”. E todos os dias este ritual se repetia até as 3 da tarde, quando voltava a ser mãe.
“Era como um interruptor que eu desligava quando a Louise voltava para casa e eu podia voltar a fazer as coisas que eu sabia, como cozinhar, cuidar dela, fazer chá e ler histórias para ela”.
Ela conseguia se contar, também, quando o seu noivo estava de folga. “Era só quando eu estava sozinha que a ansiedade vinha e a compulsão por arrancar os pelos surgia”.
Pouco tempo depois, ela já estava se levantando durante a noite para continuar a arrancar pelos no banheiro.
“ Martin estava começando a perceber que eu demorava muito tempo no banheiro, e eu dava qualquer desculpas, mentindo sistemáticamente para que ele nunca suspeitasse. Comecei a alegar problemas intestinais para poder passar mais tempo no banheiro”, disse.
Ela compara sua batalha contra essa compulsão à batalha de um alcoólatra. “Eu sabia que estava fora de controle, mas eu precisava arrancar minhas sobrancelhas. Eu simplesmente não podia parar”. Para evitar suspeitas, ela passou a pinçar pelos de regiões escondidas de seu corpo. “Eu arrancava os pelinhos do meu seio até meu sutiã se encharcar de sangue”, explicou. “ Eu tinha que lavar e secar todas as minhas roupas antes de minha família chegar em casa, para evitar suspeitas”.
Ela mantinha as cicatrizes escondidas de seu parceito por sempre se vestir e tomar banho no escuro. “Ele sabia que eu não gostava muito do meu corpo, então não questionava”.
Depois de três anos de total descontrole e angústia, ela tentou procurar um médico: mas foi dispensada. “Eu tentei dizer a ele que esta obsessão estava acabando com a minha vida, mas ele me disse apenas ‘pare’”. Quando disse a meus amigos, todos riram. “Ninguém parece incomodado, todos disseram para eu não me preocupar com isso. Até que um dia, a mãe de seu noivo, Kathy Thompson, viu uma de suas cicatrizes.
“Eu estava me trocando quando ela avistou meus seios e ficou assombrada. Quando eu disse que era por conta da minha obsessão, ela ficou extremamente chocada. Ela se sentou ao meu lado e disse que isso era muito grave e que eu precisava de ajuda. Mas a pior parte foi ter que dizer tudo isso para Martin, ele ficou arrasado”, desabafou.
Finalmente, em 2011, Charlotte foi encaminhada a um psicólogo e diagnosticada com Dermatilomania. A primeira coisa que Marti fez foi jogar fora das as pinças de Charlotte. “Ele encontrou mais de 20 escondidas por toda a casa”.
“Eu já cheguei a usar o apontador de lápis da minha filha, sem contar as agulhas e as facas”, explicou. Houve mesmo um dia em que Charlotte tentou invadir o galpão de seu noivo para pegar um par de alicates.
Mas o seu pior momento foi quando passou a deixar as unhas crescerem para conseguir se pinçar. “Eu me transformei em uma pinça humana”. Foi aí que seu noivo passou a oferecer o seu próprio corpo para ajudá-la. “Eu até fiz, mas não dava a mesma sensação de satisfação. Foi aí que percebi que não era uma questão de arrancar pelos. Mas um modo de me punir”, refletiu.
Seus ferimentos foram se tornando infectados e doloridos, e ela se recusava a ir ao médico porque as infecções lhe davam outra coisa para cutucar.
Finalmente, no início deste ano, Martin decidiu abandonar seu emprego para cuidar integralmente de Charlotte.
“Eu não consigo mais acreditar que isso começou apenas com a minha sobrancelha”, disse a jovem de 27 anos que agora só veste roupas que cobrem todo o seu corpo. “Fica mais fácil não pensar nisso, quando não vejo meu corpo”.
Seu noivo, Martin, permanece esperançoso de que com os tratamentos psicológicos, aconselhamentos e o apoio de seus entes queridos, ela consiga melhorar.