Quando chega em casa, Pedro é o garoto mais popular e cobiçado da turma. Anda sempre na moda, ouve as músicas mais descoladas e freqüenta as melhores baladas. Já viajou o mundo inteiro e está prestes a se formar em Publicidade. Lugar preferido? Praia, de preferência com os amigos da faculdade.

Quem conhece Pedro pela internet jamais imagina que o rapaz é, na verdade, um jovem tímido e solitário. Complexado por ser gordinho durante a infância, o garoto que deu seu primeiro beijo aos 17 anos e que prefere não revelar sua identidade, conta como o mundo virtual virou sua vida de pernas para o ar.

“Acho que sou travado para agir pessoalmente porque sempre fui gordo. Nunca fui horrível, mas parecia um pão de queijo: gordinho, com a bochecha avermelhada, que todo mundo acha uma gracinha, mas ninguém pega, sabe?”, revela.

Aos 17 anos, no entanto, Pedro decidiu que radicalizaria sua vida. “No último ano do colégio mudei minha sorte. Emagreci 25 quilos, deixei meu cabelo crescer e fiquei amigo dos meninos mais bonitos e mais populares da escola”, lembra. Tanto esforço, infelizmente, não solucionou o seu maior problema: a dificuldade em aproximar-se das pessoas.

“Continuei sem saber como chegar em alguém, sem conseguir conversar com os outros. Aí achei a solução: a internet”, afirma o jovem. “Acho que pela internet é mais fácil, entende? Posso ser quem eu quiser, mudar o meu jeito de ser, o que estou sentindo… Posso estar super bravo e mandar várias risadinhas pra pessoa que ela nunca vai desconfiar, ou ainda posso colocar uma foto linda minha, sendo que na realidade estou um ‘caco’ do outro lado da tela.”

Para Cristiano Nabuco, psicólogo do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, o contato via internet facilita o diálogo entre os jovens, principalmente entre os mais tímidos. “O atraso na comunicação, causado pelo tempo em que a pessoa tem para digitar sua resposta, favorece muito o jovem. Ele tem tempo para pensar na resposta ideal ou fazer um comentário muito mais atraente do que faria se a interação fosse ao vivo, onde é preciso agir rapidamente, sem pensar muito”, afirma.

Pedro concorda com a análise do psicólogo: “Na internet eu sempre sou legal, sempre estou bonito, feliz e super simpático. Ninguém é assim o tempo todo, né? Se a conversa fosse pessoalmente, você veria na minha cara que estou triste, estressado ou com vergonha.”

A maioria dos internautas utiliza os “recursos cibernéticos” – MSN, Orkut e Twitter, por exemplo – para conhecer novos pretendentes ou desenvolver uma paquera com aquele carinha em quem está de olho. Com Pedro, não é diferente. “Quando busco encontros amorosos é a hora em que eu mais costumo usar a internet, pois sei que a pessoa nunca vai se decepcionar comigo e eu posso criar a imagem que quiser”, conta.

Além de dar uma mãozinha na paquera, internet ajuda a quebrar “tabus”. Leia mais!

Apesar de considerar a interação virtual benéfica para alguns jovens, Nabuco chama a atenção para as diferentes formas de lidar com a comunicação em rede. “Pesquisas indicam que os jovens “normais”, ou seja, que conseguem interagir com outras pessoas pessoalmente, podem, com a internet, desenvolver essa habilidade e até mesmo melhorar sua forma de abordar jovens do sexo oposto”, argumenta.

Em contrapartida, adolescentes “não-normais” – os mais tímidos, que ‘travam’ ao falar com outras pessoas ou apresentam algum tipo de transtorno psicológico, como depressão ou fobia social -, correm sérios riscos de ficarem presos a essa ferramenta. “Eles ficam aprisionados à internet e não sabem ser eles mesmos, a não ser dentro desse contexto”, diz Nabuco.

E fica o alerta do psicólogo: a tendência é que esse “apego” ao mundo virtual aumente cada vez mais. “É nítido esse crescimento. Basta observar o comportamento dos jovens na balada, por exemplo. Eles não trocam mais telefone, e sim MSN, Orkut… É uma dependência do mundo virtual”, afirma.

Será que existe solução para essa dependência? Pedro acredita que sim. “Precisamos ter coragem para agir pessoalmente, enfrentar nossos medos. Usar a internet como primeiro passo para abordar alguém é um bom recurso, mas não podemos depender dessa falsa imagem pra sempre”, aconselha.

Então, aí vai a dica: se você souber equilibrar a vida social e a virtual, as portas para o maravilhoso mundo da internet estarão abertas pra você!


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Internet: cupido ou inimiga?