“Qual é nosso conceito da maternidade?” e “como a sexualidade se adapta a ele?” são algumas das incômodas questões que o fotógrafo americano Leigh Ledare propõe em uma série de retratos de sua própria mãe em poses explícitas, exibida em Bruxelas em sua primeira grande mostra.
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Ledare (Seattle, EUA, 1976) retrata sua mãe nua perante o espelho, transando em várias posições com homens visivelmente mais jovens, em poses de “stripper” e com as pernas abertas voltadas para a câmera. Nas imagens, a mesma mulher aparece com atitude sóbria, lânguida e angelical.
A dicotomia mãe versus objeto de desejo “perturba o espectador” e o obriga a se fazer perguntas sobre da identidade da mãe, segundo disse em entrevista à “Agência Efe” Elena Filipovic, curadora da mostra que poderá ser vista no centro Wiels, em Bruxelas, até 25 de novembro.
Os retratos, intitulados em sua maioria “Mom” (Mamãe), abordam a questão materna “em toda a sua complexidade”, e evidenciam “que a mulher pode ser ao mesmo tempo mãe, uma referência para seus filhos e um objeto sexual, embora para algumas pessoas seja problemático admitir”, segundo Elena.
“A sexualidade da mãe é a última fronteira do tabu”, acrescentou a curadora, que concorda que a relação materno-filial da mulher e o fotógrafo “não é a mais habitual”, devido à experiência prévia da mulher como modelo, dançarina e “stripper”.
“Mas o que é a normalidade sexual quando falamos da mãe?”, pergunta a comissária.
Ao mesmo tempo, Ledare interpela o público em sua função de “voyeur” ao fazê-lo participar de um exibicionismo que não se materializaria sem seu olhar.
“Não se trata de uma provocação gratuita. Também não é pornografia ou erotismo, porque as imagens de Ledare não suscitam desejo ou atração sexual”, analisou Elena.
A maioria das pessoas se mostra “incomodada ou perturbada” ao sair da mostra. “Seria preocupante se não gerasse nenhum tipo de reação no espectador”, acrescenta Elena.
A curadora acredita que a exposição seria “muito mais provocadora mas menos perturbadora” se incluísse unicamente os retratos explícitos, e neste sentido chama à reflexão sobre o que se pode mostrar em uma imagem e o que não.
“Hoje em dia estamos bombardeados por imagens pornográficas e semipornográficas na televisão, na internet e na publicidade, e ninguém se coloca perguntas a respeito”, comentou.
As imagens pertencem à série “Pretend You’re Actually Alive” (Finja que você está realmente vivo) e fazem parte da centena de obras reunidas na primeira grande mostra dedicada exclusivamente ao artista, que também inclui vídeos e colagens.
Outra de suas séries inclui retratos de uma ex-mulher de Ledare feitas por seu novo marido e pelo próprio artista, e também oscilam entre a ternura e a crueza.
O título da exposição “Leigh Ledare, et al.” (Leigh Ledare e outros) foi eleito pelo próprio autor para mostrar “o papel central que esses outros (mãe, amigos, ex-mulheres, colecionadores e clientes anônimos) desempenham em seu trabalho”, segundo o site do centro Wiels.
Apesar das imagens transgressoras, a exposição não suscitou por enquanto queixas ou reações negativas, segundo a curadoria.