Acostumada a receber as agitadas festas do Ano Novo no Rio de Janeiro, a praia de Copacabana foi palco, na madrugada de sábado para domingo (28), da vigília da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), um tipo diferente de celebração onde a música conviveu em paz com os momentos de oração.
Desde as primeiras horas da manhã de sábado (27), milhares de peregrinos lotaram as ruas transversais da Avenida Atlântica em direção à orla. A chegada foi bastante ordenada, e a multidão logo se juntou a várias pessoas que já haviam passado a noite de sexta-feira nas areias.
Foi o caso do grupo do qual fazia parte a estudante Larissa Dalcolmo, de 16 anos e natural de Santa Teresa, no Espírito Santo, e que chegou à Copacabana às 10h30 da manhã.
“Não íamos à vigília porque seria em Guaratiba, mas mudamos de ideia quando mudaram o local pra Copacabana. Viemos no improviso, sem muita comida ou estrutura para passar a noite. Mas o que vale é contato com os outros peregrinos, com o papa e com Deus”, declarou Larissa.
A organização informou que o bairro chegou a receber na noite deste sábado cerca de três milhões de pessoas. Por conta desse volume, mais uma vez os acessos à Copacabana foram fechados para todo tipo de veículo.
As ruas fechadas facilitaram não só a circulação dos peregrinos, como também serviram para moradores usufruírem de amplos espaços para andar de bicicleta, skate e improvisar rodas de ‘altinha’.
No momento da abertura oficial da vigília, às 19h30, tanto a Avenida Atlântica quanto a areia já estavam tomadas de barracas e sacos de dormir. O mar, muito mais forte que o de costume, chegou a invadir o espaço de alguns fiéis que decidiram passar a noite mais próximos da água.
Enquanto isso, pelos alto falantes, a organização da JMJ pedia para que os peregrinos não ficassem muito próximos da arrebentação ou se arriscassem a entrar na água.
“É a primeira vez que venho ao Rio, estou emocionado por ver o papa e também por ver o mar pela primeira vez. Tudo que está acontecendo é maravilhoso demais, é obra de Deus”, declarou o argentino Marcelo Zelobia, de 33 anos.
Após a passagem do papamóvel pela Avenida Atlântica em seu trajeto até o palco principal da JMJ, alguns peregrinos se aproveitaram das grades usadas pela organização e as pegaram para fazer seus próprios cercadinhos na rua ou na areia e passarem a noite mais tranquilos.
“Passamos por muitas dificuldades, muitos sacrifícios, mas valeu a pena. Quem nos permitiu atravessar o Oceano Atlântico foi Deus”, comentou o angolano Manoel Marcolino, de 32 anos.
Logo após o fim dos shows no palco principal, por volta da meia-noite, enquanto alguns grupos improvisaram rodas de violão e até algumas batucadas para continuar a festa, a grande maioria dos fiéis optou por passar a vigília descansando e a praia de Copacabana se tornou um enorme acampamento, com pessoas dividindo espaço não só com a estrutura montada pela organização, mas também com uma grande quantidade de lixo que já estava espalhada pelo bairro.
Nesse imenso acampamento improvisado, as bandeiras, que os peregrinos de centenas de países que vieram ao Rio para evento ostentavam com orgulho pelas ruas, viraram cobertor, enquanto as mochilas faziam as vezes de travesseiro.
Para enfrentar a madrugada, a organização da JMJ também disponibilizou uma espécie de “kit de sobrevivência” para os peregrinos. Salada de atum, batata frita, barra de cereal, chocolate e amendoim eram alguns dos itens que ajudaram os fiéis a passar a noite sem grandes transtornos.
No entanto, não faltaram reclamações, principalmente em relação às filas nos banheiros, onde algumas pessoas disseram ter passado mais de duas horas, e também ao frio, que acabou fazendo com que muitos fiéis desistissem da ideia de passar a noite na praia para garantir um lugar melhor para a última missa da JMJ, celebrada pelo papa Francisco neste domingo.
Às 5h da manhã, um grupo de peregrinos de Cruzeiro, no interior de São Paulo, já começava a dobrar os cobertores e levantar o acampamento para se preparar para a missa.
Daniel Goulart, de 23 anos, acredita que até os que sucumbiram ao sono compartilham das orações. “A igreja está em comunhão aqui hoje, todos estão unidos”, afirmou o jovem.
Para a peregrina Vanessa Aparecida, de 25 anos, as dificuldades fazem parte da manifestação de fé em uma vigília. “O frio está sendo o mais difícil, mas tudo é um desafio. Jovem que é católico de verdade gosta de desafio, precisa dele”, disse.
As amigas Terezinha de Jesus, 51 anos, e Maria das Graças, 61, vieram de São Paulo e fizeram a caminhada de cerca de dez quilômetros da Central do Brasil, no Centro, até o local da celebração.
“Foi cansativo, mas valeu a pena. Conhecemos Copacabana, onde ainda não tínhamos ido”, contou Maria das Graças.
Para a peregrina, descansar no precário saco de dormir na calçada não foi a parte mais difícil da vigília. “Ela dormiu bem, parecia até que estava em casa!”, brincou Terezinha.
O mais difícil, segundo o grupo, foi o cansaço da caminhada de peregrinação e a escassez de banheiros no percurso, o que causava filas gigantes.
Além disso, os banheiros químicos instalados na Avenida Atlântica não conseguiam atender à demanda e já estavam bastante sujos no começo da noite. Segundo Terezinha, “um jovem passou mal e chegou a vomitar” devido ao mau cheiro.
“É muita gente, a prefeitura não dá conta. Ficou fora de controle”, lamentou.