Um cavalinho de borracha, um tabuleiro de xadrez, figurinhas de personagens de filmes, livros escolares e outros objetos comuns na vida de uma criança foram reunidos em uma curiosa exposição, que, por sua vez, presta uma singela homenagem às crianças mortas durante a Guerra da Bósnia.

 

Uma fotografia relembra Armin Aganovic, que morreu na sala de sua casa logo após a explosão de uma granada. Sua mãe e seu irmão também morreram neste mesmo ataque.

“Armin gostava muito de seu irmão menor, Benjamin. Era muito inteligente e sensível. A cada dia, ao ver seu pai saindo para ir ao quartel militar, dizia: Cuidado, papai!”, relata a nota que acompanha a imagem.

Objetos como este relatam a vida e morte das crianças vítimas da guerra da Bósnia (1992-1995) e também aparecem como o centro da exposição que ficará em cartaz até o dia 15 de maio no átrio do teatro SARTR, fundado durante o conflito.

“Nunca esquecerei a data de 14 de setembro de 1992, quando meu filho Vedad morreu após ser atingido por fragmentos de uma granada. Não posso esquecer essa imagem, seu olhar. Ali acabou a vida de meu filho e parte da minha também”, declarou Muniba Seta, mãe de um dos 524 menores mortos pelas tropas sérvio-bósnias.

Por trás das crianças ficaram as bolinhas de gude, que os familiares ainda guardam em caixinhas de joias, ou um casaco verde passado com muito zelo.

Uma bola, camisetas de clubes de futebol, chinelos, um trenó, um cartão de aniversário, um desenho de uma professora, mensagens de amor também fazem parte da exposição, todos com alguma triste história para revelar.

“Nunca foram tão horríveis os dias em Sarajevo. Tanto horror, tanta tristeza e desespero em minha vida”, relatou em seu diário no início da guerra a menina Ana Perucica, morta em 1993.

“É difícil descrever o quanto me sinto mal. Por que não paramos com tudo isto? Por que não voltamos a viver novamente em normalidade? Quero que tudo esteja bem para que eu possa brincar com minhas amigas”, relatava.

A exposição foi idealizada pela atriz e pintora bósnia Arma Tanovic e organizada com apoio da Associação de pais das crianças vítimas da guerra em Sarajevo.

Durante os três anos e meio de guerra na Bósnia, Sarajevo ficou cercada pelas tropas sérvio-bósnias, cuja artilharia disparava sobre a cidade do alto das montanhas que ficam nos arredores.

“Quando se tornar pai, sentirá pela primeira vez o que é o medo. E eu, ao ter um filho, comecei a pensar como se sentiam os pais que criaram suas crianças em plena guerra”, explicou Tanovic sobre sua motivação para organizar esta mostra.

O objetivo da exposição, segundo a artista, é fazer com que as pessoas jamais se esqueçam dos crimes cometidos contra as crianças de Sarajevo e que se façam tudo o que for possível para que essas cenas não voltem a se repetir nunca mais.

“A maioria dessas crianças foi assassinada de forma premeditada, como foi o caso de Mirela Plocic, vítima de um franco-atirador que a matou enquanto brincava com suas amigas. Viu que se tratava de uma simples menina e, no entanto, atingiu seu alvo. Quando lançaram granadas nas escolas e nas maternidades, eles sabiam o que estavam fazendo”, disse.

Tanovic denunciou que, apesar dos principais líderes sérvio-bósnios da época – Radovan Karadzic e Ratko Mladic – estarem sendo processados pela Justiça internacional, muitos dos que cumpriam suas ordens ainda estão em liberdade.


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Exposição relembra Guerra da Bósnia com brinquedos de crianças mortas