Arte, uma sobrevivente da barbárie na Síria
Créditos: Reprodução/Site Institut des Cultures d'Islam
A arte que sobrevive à barbárie da Síria, graças aos criadores que continuam trabalhando, apesar das revoltas de 2011 que geraram uma guerra civil, chega a Paris com uma exposição no Institut des Cultures d’Islam (Instituto de Culturas do Islã).
Os vídeos, as fotografias e as pinturas levam a assinatura de 15 artistas que retratam, às vezes com humor ácido e, outras, com dureza, o horror da violência que castiga um país destruído. Como diz o título da mostra, “Et pourtant ils créent! Syrie: la foi dans l’art” (“E ainda assim criar! Síria: a fé na arte”).
Apenas um dos artistas, Fadi Yazigi, cujas peças viajaram às feiras de arte contemporânea de Paris e de Dubai, continua vivendo em Damasco, onde a falta de recursos os levaram a usar sacos de farinha como telas, contou à Efe a diretora do museu, Elsa Jacquemin.
Os outros trabalham do exílio, e suas obras refletem que tudo mudou. Alguns modificaram os temas que tratam, enquanto outros mudaram os tons e as técnicas usadas, apostando em muitos casos no uso dos meios digitais.
Por exemplo, Akram al Halabi, formado na academia de Belas Artes de Viena, deixou os pincéis para se dedicar a escrever sobre uma série de fotografias de massacres da Síria. No caso de Mohammed Omran, cujos desenhos abordam o corpo humano doente, as cores dos primeiros filmes empalideceram e em seus últimos trabalhos o branco e o preto se apossam das imagens.
Evolução parecida experimentou a obra de Khaled Takreti, que em seu trabalho “J’ai perdu mes couleurs” (“Perdi minhas cores”) abandonou em parte a técnica “precisa e limpa” que o caracteriza para se deixar levar pelo caos, explicou à Efe a diretora de relações públicas do espaço, Blanca Pérez.
Quando perdeu sua oficina em Damasco, Tammam Azzam, que expôs em galerias de Beirute e de Londres, decidiu se expressar através da arte digital com composições baseadas em fotografias reais da Síria nas quais remete a motivos icônicos de grandes mestres, como “Os Fuzilamentos de Três de Maio”, de Goya, o primeiro pintor que retratou a guerra como algo doloroso, e não épico, segundo Pérez. “E, embora todos integrassem o drama de seu país em suas obras, em alguns há uma vontade política clara”, disse Elsa.
Por exemplo, o grupo “Masasit Mati”, formado por dez artistas que permanecem no anonimato, expõe episódios de uma sátira política que foi divulgada nas redes sociais e na qual o ditador Bashar al Assad aparece como uma marionete. O Facebook foi a plataforma escolhida pelo coletivo “No” para mostrar uma série de fotografias na qual se utiliza o corpo humano com um braço vendado para formar em árabe a palavra que dá nome ao grupo.
Os cineastas do grupo “Abounaddara”, cujos filmes participaram de festivais como a Mostra de Veneza, optaram por realizar curtas-metragens centrados em histórias cotidianas, além dos confrontos que captam a atenção da mídia.
Outra forma de protesto são os retratos realizados por Jaber al Azmeh, que expôs na Forum Factory de Berlim, e nos quais retratou sírios sustentando um exemplar do jornal oficial do regime “Baath” sobre o qual tinham escrito mensagens como “Amamos todos eles”, em referência aos desaparecidos.
O único fotógrafo presente, Muzaffar Salman, da agência Reuters, capturou com sua objetiva detalhes belos em meio a um cenário destruído, em fotos em que a luz é a protagonista. As ilustrações de momentos trágicos da história contemporânea de Yasser Safi, os desenhos em preto e branco com que Abdul Karim Majdal al Beik mostra a dor da Síria e as criações em que Waseem al Marzouki mostra o papel dos recursos energéticos no conflito também podem ser vistas.
“Quisemos dar a palavra, o direito de falar aos artistas sírios”, ressaltou a diretora do Instituto, que acompanha a exibição com um programa de concertos, debates e encontros com escritores que olham para o panorama cultural da Síria. A mostra pode ser vista até o dia 27 de julho.