Prêmio Sexy Hot de filmes pornográficos nacionais
Há um momento da noite em que você se dá conta, “A menina que troca ideia comigo agora, mastigando croquete, concorreu ao prêmio de melhor cena de sexo oral”. E então outra atriz pornô, Jully DeLarge (DeLarge em homenagem ao protagonista do livro Laranja Mecânica), está falando com você sobre a importância da produção pornográfica feminista, em que elas são protagonistas do prazer e tudo o mais. E você dá um salve para Isabelita dos Patins (linda) no banheiro masculino e, em seguida, meio que se apaixona por uma atriz nerd tatuada do filme Cornolândia, o Submundo dos Cornos. Foi o que rolou no 2º Prêmio Sexy Hot, nesta terça-feira (18), em São Paulo.
O evento premiou filmes pornográficos brasileiros em 14 categorias diferentes, tais como melhor cena de anal, melhor cena de fetiche e melhor nome de filme (a lista completa está aqui – NSFW). Era um evento em que a banca de Kid Bengala, o herói dos filmes adultos brasileiros, era bem maior (sem trocadilhos) que a das irmãs Ana Paula e Tati Minerato. Enquanto as modelos, convidadas para apresentar o prêmio de dupla penetração (hehe), tinham tempo para moscar, Kid era abordado a toda hora para dar entrevista, trocar ideia, entrar em selfie.
“Eu nem sempre vejo filme pornô, mas acho que é legal para apimentar a relação. É um trabalho legal e deveria ser mais valorizado aqui no Brasil”, disse Ana Paula a este repórter, enquanto sua irmã mexia no celular, alheia ao mundo ao redor.
Não, não tinha gente pelada. Uns decotões, mas todo mundo comportado. Na cerimônia de premiação, dava nó na cabeça ver o vídeo de apresentação dos candidatos, cheios de peitos e bundas e troços, e, em seguida, pessoas vestidas, de carne e osso, subindo ao palco para receber troféu. Subiram quatro garotas para o prêmio de melhor cena de orgia. Elas vestidas no tablado e peladonas no telão.
Teve coquetel depois, com whisky e comidinhas. Eu perguntei para Bárbara Costa (essa aqui em cima, candidata ao prêmio de melhor cena de fetiche por uma transa com boneca inflável) sobre esse negócio de ser vista no telão por tanta gente, ao vivo. “Ah, eu gosto de ser vista, não é nada estranho”. E o trampo de atriz pornô? “Eu estou há quatro anos na indústria e adoro. Mas eu não ultrapasso os meus limites. Se o ator é muito violento, eu não gravo, por exemplo. Não faço bukakke. Tudo é conversado antes da cena. Tem menina que se sujeita a coisas de que não gostam, mas eu não consigo fazer isso”.
Yuri, ator pornográfico há 11 anos, foi um dos grandes vencedores da noite. O cara levou os prêmios de melhor cena de sexo anal, melhor cena de sexo oral e melhor ator. “Muita coisa mudou no mercado desde que eu comecei. A pirataria quase acabou com a indústria, mas os canais de TV eróticos estão melhorando nossa situação. Mas eu não reclamo. Sempre fui punheteiro e tarado. Eu me considero meio que jogador de futebol: ganho para fazer o que gosto. Não é um trabalho para qualquer um. A pior situação é quando você não se dá bem com a atriz. Dá ruim. Ou quando você tem de gravar uma cena com a namorada de um amigo: você se sente desconfortável, mas tem de fazer o trabalho”.
Maurício Paletta, diretor-geral do Sexy Hot, nos disse que a indústria pornô ainda não sentiu baques da crise econômica. “Estamos com 450 mil assinantes em nossos seis canais da Playboy TV. Vimos um aumento do número de inscritos no prêmio Sexy Hot, em relação ao último ano, e uma melhora significativa na qualidade dessas produções. Acho que a competitividade causou essa evolução”, afirmou, com uma taça de champanhe na mão.
Maurício contou que 54% dos assinantes dos canais da Playboy TV, hoje, são mulheres (sim, 54%!). A indústria, que não é boba, está desbravando novos territórios por bandas menos normativas. Jully DeLarge, atriz e diretora do site Xplastic, que aposta em atrizes tatuadas e cheias de piercing, nos disse: “As pessoas estão procurando coisas diferentes. É importante reinventar a pornografia para que as mulheres não se sintam agredidas. Muitas se sentem diminuídas e tratadas como objeto com o que veem, e queremos mudar isso. Cada vez mais pessoas querem focar a coisa no sexo real, sem fingimento”.
Saímos de lá com coisas para pensar. Conversamos com trabalhadores da indústria pornô super interessantes, que pensam criticamente sobre o que produzem e que optaram pelo trampo como vocação. Tem também ator que trabalha nesse mercado como último recurso. “Todo mundo acha que é uma delícia fazer filme pornô, mas não é. Não é como fazer sexo em casa. Eu não saberia dizer um ponto positivo de trabalhar com isso”, nos disse uma atriz transexual. Há diferenças.
A propósito, nós descobrimos que o filme não-pornográfico preferido de Kid Bengala é Máquina Mortífera. Eu e o fotógrafo Gabriel Quintão saímos perguntando para os atores e atrizes pornô sobre filmes preferidos (porque sim, porque a gente é curioso, porque a gente é meio besta). Dá uma olhada nas respostas deles na galeria de fotos aqui em cima.