Às vezes, na redação do Virgula, não adianta fingir que está escutando música no fone de ouvido para se livrar de pautas cabeludas. Era um dia bonito, com sol no céu e tudo o mais, mas a Ju Tozzi, editora de Lifestyle, discutia uma reportagem sobre depilação masculina na mesa das chefes (“oh, não!”, pensei, antecipando a treta). Ela contava que, cada vez mais, homens procuram esse serviço e que, inclusive, existe um lugar em São Paulo que oferece depilação com cera quente exclusivamente para caras (“oh não!”, pensei de novo). Antes que eu pudesse pensar em fugir pegar um café na copa, a diretora de projetos gritou: “Nanbu, eu tive uma ideia!”. Tirei o fone. “Por que você não faz uma depilação íntima nesse spa para contar como é?”. Oh, nããão! Mas tranquilo, a gente está aqui para isso. Bora lá.

Conseguimos agendar um horário para o dia seguinte, e a Ju me acompanhou na ida ao Studio Masculino, na Vila Mariana (acho que ela se solidarizou com a minha roubada). O lugar, decorado com lâmpadas chinesas e esteiras de bambu, tinha um ar todo zen. Quem nos recebeu foi o sócio Fernando Sousa, o cara que faria a minha depilação. Todo tranquilão, ele pediu que a Ju esperasse em uma das salas enquanto ele arrancava meus pelos. “É que alguns homens ficam intimidados com mulheres na sala de espera. Em salões normais, eles têm de aguardar no mesmo ambiente que elas e, às vezes, se sentem incomodados”, explicou.

“Vai doer muito?”, perguntei, já na sala de depilação. “Vai doer, mas acho que você vai sobreviver”. Ufa, eu sobreviveria! O Fernando me explicou que a cera que eles usam por lá, uma massa verde bem escura, é especial para o pelo masculino, mais grosso que o das mulheres. “Pode tirar as calças”. Assim, do nada, no meio da minha vida humilde, lá estava eu pelado, deitado em uma mesa com a bunda para cima, prestes a ter meu fiofó (vulgo ânus), minhas partes (vulgo virilha e saco testicular) e meu suvaco (aquilo que chamam de axilas) depilados.

Sem título

Primeiro, foi a depilação anal. “Em que posição eu tenho de ficar?”. Torci para que fosse uma posição “digna”, já que a Silvia Ruiz, a tal diretora de projetos que me enfiou nessa roubada, havia dito algo sobre ser depilada “de quatro” ou “em posição de frango assado”.

“Pode ficar deitado de barriga para baixo”, orientou Fernando, para alívio geral da nação. “Ficar de quatro não é necessário, mas é que tem depilador que não se atualiza sobre novas técnicas”, disse (seu depilador não se atualiza, Silvia). Ele dobrou uma das minhas pernas e aplicou a cera quente (ui!) entre minhas bochechas meridionais e, quando eu menos esperava… Zás! Arrancou um tufo de pelo, com um movimento rápido, quase ninja.

Foram quatro “zás”, e meu furebes ficou limpinho em cinco minutos. Doeu, prezado júri, mas uma dor suportável. Eu esperava algo como a morte por cortes de papel, já que algumas amigas haviam me tocado o terror. A sensação é mais parecida com a de levar um tapão bem dado.

Passamos, em seguida, para saco e virilha. Ah, isso doeu mais, viu. O saco nem tanto, mas tem umas partes bem ao redor das partes que são sensíveis pa-ra ca-ram-ba. Nada insuportável, porém.

O Fernando conversava comigo como se estivesse cortando cabelo em barbearia. O cara está tão acostumado a fazer isso que eu não me senti nem um pouco constrangido enquanto ele segurava todas as minhas coisas penduradas e falava: “A gente tem de tomar cuidado para não machucar. Por isso, eu seguro aqui e aqui para esticar tudo e, quando puxar [zás], o pelo sair todo”. Depois, também fiz as axilas, mas daí eu já era meio mestre em aguentar a dor (de acordo com o Fernando, a dor mais doída é a da depilação da barba, mas se me pedissem para fazer essa pauta, eu arregaria).

Minha depilação faz aniversário de três semanas no momento em que escrevo estas doces palavras. Ela vai bem, obrigado. As coisas cresceram menos de meio centímetro (tem só umas penugenzinhas, ó a foto) e não encravaram nem coçaram.

Depilação do Gabriel Nanbu depoisd de três semanas

Antes dessa experiência, eu costumava rapar a virilha com lâmina de barbear e baixar a altura dos pelos com tesoura. No entanto, os pelos constantemente encravam, e, em poucos dias, você tem de passar a gilette de novo.

Ser depilado com cera dá uma sensação de limpeza. Dos meus amigos homens, poucos tentaram esse tipo de rolê. O Fernando diz que, lá no spa, ele recebe gente dos mais diferentes perfis, de adolescentes a idosos, de gays a héteros, de fisiculturistas a levantadores de copo.

Se me perguntassem, eu passaria por uma depilação novamente, sim, mesmo sem a chefe obrigar. No entanto, eu ainda pagaria uma cerveja a quem inventasse um método totalmente indolor. Pagaria, sim. É só passar aqui no bar embaixo da redação.

Dá uma olhada, aqui embaixo, no vídeo da depilação do meu suvaco (porque eu não ousaria levar a público minhas partes íntimas):


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Este jornalista foi enviado para fazer depilação íntima em spa masculino e conta qual é que é