Uma equipe de pesquisadores do Instituto Max Planck alemão, liderada pelo espanhol Luis Álvarez, descobriu que os espermatozóides são capazes de realizar cálculos complexos.
Os cientistas do Centro Europeu de Estudos e Pesquisa Avançadas de Bonn determinaram que quando o óvulo libera emissores químicos que modificam a concentração de íons cálcio no interior dos espermatozóides (o que ativa sua movimentação), eles não reagem ao aumento dos níveis dessa substância, mas às suas variações.
“O que eles medem são as taxas de mudança ao longo do tempo, a rapidez ou a lentidão da alteração da concentração de cálcio que entra nos espermatozóides de seu exterior”, disse à Agência Efe o cientista espanhol.
Assim, “em função do valor da taxa de mudança, alteram a forma como movimentam a cauda e mudam de direção. Em outras palavras, a direção dos espermatozóides é regulada pela velocidade da mudança de cálcio”, explicou.
“Resulta bastante cômico pensar que o cálculo diferencial (ramo importante da matemática que se dedica ao estudo de taxas de variação de grandezas e a acumulação de quantidades) não era realizado até o século 18, mas os espermatozóides já faziam isso há mais de 400 milhões de anos”, ressaltou.
Álvarez explicou que “os espermatozóides, como muitas outras células, fazem dezenas de cálculos”. O fenômeno descoberto pela equipe foi observado por enquanto unicamente nos espermatozóides de várias espécies marítimas.
“É por isso que ainda estamos realizando esforços para conhecer quais espécies se comportam deste modo” e se este fenômeno também ocorre nos seres humanos, explicou o cientista.
Álvarez destacou que “o mecanismo que movimenta a cauda do espermatozóide foi conservado ao longo da evolução e se encontra em diferentes tipos de células do corpo humano”.
“Estas células possuem extensões similares à parte final dos espermatozóides chamada cílios móveis, e desenvolvem diferentes funções”, acrescentou.
Neste sentido, “é provável que estes cílios possuam estratégias parecidas a do espermatozóide para ajustar seu movimento como resposta a sinais”, explicou.
Entre outras funções, eles “limpam nossas vias respiratórias empurrando a sujeira para o exterior, determinam que nosso coração fique do lado esquerdo e não do direito durante o desenvolvimento do embrião e empurram o óvulo das trompas até o útero”.
Segundo Álvarez, a pesquisa é um passo importante no “entendimento de como as células processam os sinais que recebem”.
Assim, “o cálculo da taxa de mudança é importante porque permite às células identificar e responder unicamente aos sinais que têm uma taxa de mudança adequada. Em termos técnicos, permite filtrar estímulos por freqüências”, afirmou.
“As repercussões globais deste descobrimento… o tempo dirá”, concluiu o pesquisador.