Não há evidências de que o ecstasy cause danos ao cérebro, de acordo com um dos maiores estudos sobre o uso da droga. Os cientistas responsáveis pela pesquisa afiram que estudos anteriores usavam dados incompletos para tirar conclusões precipitadas.

Especialistas exageraram ao afirmar que o consumo de ecstasy está diretamente relacionado à dano cerebral. Eles argumentavam que pode induzir a perda de memória, diminuir a atividade cognitiva e tem efeitos de longa duração sobre o comportamento.

Mas agora cientistas que sempre defenderam a relativa segurança do ecstasy estão felizes com a publicação do novo estudo. “Eu sempre soube que, quando estudos bem feitos fossem realizados, descobriríamos que o ecstasy não causa dano cerebral”, disse o Professor David Nutt. Ele foi demitido do cargo de diretor do Advisory Council on the Misuse of Drugs (órgão que aconselha o governo do Reino Unido sobre o controle de drogas) por afirmar publicamente que tabaco e álcool são mais prejudiciais à saúde do que as pílulas de ecstasy.

O estudo foi realizado pelo Professor John Halpern da Harvard Medical School e publicado no jornal científico Addiction em fevereiro. O estudo recebeu uma bolsa de US$1.8 milhões (R$2.9 mi) no Instituto Nacional sobre o Abuso de Drogas dos Estados Unidos.

“Muitos estudos eram realizados com pequenas populações, enquanto conclusões precipitadas eram tiradas deles”, diz Halpern. Para começar, os usuários estudados eram escolhidos em uma cultura de danceterias, em que frequentadores passam a noite em claro dançando. Esse costume os priva de horas importantes de sono e de ingestão de fluídos – fatores que reconhecidamente tem efeito cognitivo de longa duração. Já os não-usuários estudados tinham histórico diferente de atividades sociais, o que produzia resultados comparativos com pouca fundamentação.

Tampouco era levado em consideração que usuários de ecstasy costumam consumir outros tipos de drogas e álcool, o que também altera o estado cognitivo, além da possibilidade de terem sofrido algum tipo de prejuízo intelectual antes de consumir a droga.

O estudo de Halpern só leva em conta usuários de ecstasy que não usam outro tipo de drogas e que não tenham qualquer tipo de dano prévio. O experimento extraiu de 1.500 participantes potenciais um grupo de 52 usuários, que tiveram suas habilidades cognitivas comparadas com um grupo de 59 não-usuários. “Nós pegamos até amostras de cabelo dos participantes para garantir que eles não estavam mentindo sobre o consumo de drogas e álcool”, disse Halpern.

“Essencialmente, nós comparamos um grupo de pessoas que frequentam raves e dançam a noite toda e que consomem ecstasy, com um grupo que também frequentam raves e dança a noite toda, mas não consome ecstasy. Quando fizemos isso, percebemos que não haja diferença nas habilidades cognitivas dos dois grupos”. Em outras palavras, estudos anteriores destacaram problemas que eram resultado de outros fatores, e não do consumo da droga, como falta de água e privação de sono.

Mas a droga ainda traz muitos riscos, diz o professor. “O consumo de ecstasy é perigoso porque pílulas produzidas ilegalmente podem estar contaminados com substâncias que trazem efeitos colaterais prejudiciais”.

via Guardian


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Ecstasy não danifica o cérebro, dizem cientistas