Desgraça boa para o bolso
Créditos: Reprodução/Youtube
Nem parece que faz tanto tempo, mas já se passaram mais de dois anos desde que todos fomos surpreendidos por um comercial de cerveja no qual ninguém mais, ninguém menos que Beto Barbosa, aparecia para um churrasco tido como brega.
Pois é, e foi ele mesmo, o grande disseminador da lambada no Brasil, na década de 1990, que acabou lançando outra moda 20 anos depois: a dos comerciais com auto-zoação!
Depois de Beto vieram o também cantor Byafra, o ator Ricardo Macchi e até o campeão de MMA Anderson Silva, cada um exaltando o que tem de, digamos, pior e fazendo uma graninha com a própria “desgraça”.
Virgula Inacreditável bateu um papo com o precursor disso tudo para saber como as coisas aconteceram para ele, se o “auto-bulliyng” fez bem ou mal para a imagem e carreira dele e como encara essa tendência de “desgraça boa para o bolso”, que até Carla Perez tentou fazer no passado, mas sem tanta repercussão. Leia, a seguir:
VI – Como surgiu o convite para participar de uma campanha de cerveja?
BB – Há uns dois anos e meio me convidaram para fazer a campanha e eu achei bem interessante o tema. Me coloquei no lugar do espectador e achei legal.
VI - Como você encarou a proposta do comercial?
BB – Junto com a proposta já veio o texto da campanha e eu achei muito legal, pois seria algo diferente, fugindo do padrão que vinha sendo feito há vários anos. Eu sou um cara a favor do diferente. Como criador da lambada, que tem como proposta colocar as pessoas para dançar e se divertir, achei a ideia do comercial divertida, bem a cara do Brasil, afinal, todo brasileiro faz churrasco, gosta de tomar cerveja e de mulher bonita e sempre numa festa chega um “gaiato”, como o cara da pochete, é irreverente. Aí eu topei. Acreditei junto com eles e é aquela história: poderia dar muito certo ou muito errado. Acabou dando certo, conseguimos mostrar que era possível fazer um comercial de uma forma diferente, sem ser aquela coisa chata que faz as pessoas terem vontade de mudar de canal. A gente [brasileiro] gosta de ver essas coisas irreverentes.
VI - Como foi o retorno dessa exposição para você?
BB – Tem sido muito legal. Já estou no terceiro comercial com essa marca [teve o da pochete, o do Zé Cabeleira e agora o que ele canta Preta] e com essa visibilidade eu tenho aparecido bastante no sul e sudeste do Brasil, que não tem tanto essa cultura de dançar como o povo do norte e nordeste – por lá eu sempre fiz shows.
Os brasileiros que gostam de dançar sempre me prestigiaram e há uma certa tradição de Beto Barbosa no norte e nordeste, onde eu trabalho bastante. Esse comercial me fez ser lembrado no sul do país, então, isso foi muito bom para mim, a agenda está sempre cheia. Agora com essa crise que temos na música, seria impossível correr o país de ponta a ponta fazendo shows se não fosse pela campanha. Não há preço que pague essa história toda! Para mim, foi tudo 100% maravilhoso.
VI - Você achou, em algum momento, que a propaganda foi depreciativa para sua imagem, já que o atrelava a um rótulo de brega?
BB – Não, em nenhum momento. Até porque essa coisa do brega é muito relativa, principalmente no Brasil. O que é brega [de forma pejorativa] para mim, pode não ser para você. Nem todo mundo gosta de rock, nem todo mundo gosta de lambada, há uma diferença muito grande nos conceitos. Então, o churrasco é uma coisa que está no Brasil, todo mundo toma uma cervejinha no fim de semana, todo mundo já usou uma pochete algum dia, todo mundo usa um óculos new wave hoje em dia, até os estilistas estão apostando nisso novamente, a moda vai e volta. Tempos vão e voltam, o que é bom fica e o que é ruim vai. Acreditar no novo é sempre um risco na vida de qualquer um, mas quando você tem uma lógica, um perfil e um foco do que quer atingir não tem problema. E o Brasil é isso aí, essa irreverência, essa zoação.
VI - Vocês acabaram lançando uma tendência. A campanha da qual você fez parte foi a primeira e agora vieram outras como a do Byafra, a do Ricardo Macchi com Dustin Hoffman e até o Anderson Silva entrou na onda. Como você se sente sendo precursor disso?
BB – Tudo é possível de acordo com a verdade de cada um. Em todos esses comerciais existe uma zoação, mas com um fundo de verdade que o público quer ver. Com a seriedade que a TV tinha até pouco tempo atrás isso não era possível. Eu me lembro de antigamente assistir aos telejornais e ver aquela coisa “dura”, com a câmera fechada só nos apresentadores… Hoje já não é mais assim, você consegue até ver gente passando atrás das câmeras nos estúdios, é uma inovação. Eu fico feliz em ter acreditado e ter tido coragem de ter colocado minha imagem e minha carreira nessa história, que, como eu falei, tinha tudo para dar errado, mas deu super certo e inspirou outros. As pessoas podiam até ter vontade de fazer algo parecido, mas não tinham coragem e agora estão aí. Até quando vai eu não sei, porque chega um momento em que tudo fica saturado e é necessário buscar um novo foco, afinal, as empresas querem vender e chamar atenção. Ninguém quer passar despercebido, feio ou ruim, todos querem chamar a atenção para vender o seu produto.