Lâminas e ilustrações selecionadas por Hiro
Créditos: Arquivo pessoal/ Hiro Kawahara
O ilustrador Hiro Kawahara, 50 anos, é o cara que te distrai enquanto você mastiga um Big Mac sem picles. Foi ele quem começou a transformar as toalhinhas de bandeja do McDonald’s em um espaço para ilustrações divertidas e informativas. O cara, um ilustrador muy respeitado entre seus pares, nos recebeu em sua casa/ estúdio no bairro do Brooklin, em São Paulo, relembrou de como tudo começou e nos contou curiosidades sobre seu trabalho.
“Desde que eu comecei a fazer as ilustrações de toalhas, em 1995, sempre coloco duas assinaturas escondidas em cada lâmina: uma bem difícil e outra não tão difícil de encontrar”, contou Hiro, no estúdio em que realiza trabalhos comerciais, toca projetos pessoais (quadrinhos, ilustrações, livros loucões…) e dá aulas de seu curso de desenho.
“Como o trabalho que eu faço para o McDonald’s é publicitário, você não pode assinar, por isso dou um jeito de colocar a palavra ‘Hiro’. As assinaturas fazem parte do desenho e, geralmente, estão no cabelo de um personagem, em uma folhagem, em uma constelação de estrelas. Com o tempo, virou algo como Onde Está o Wally?, só que mais difícil. Hoje, eu continuo fazendo pela tradição”.
Antes de ser ilustrador, Hiro era estudante de biologia. Ele largou a faculdade no último semestre para pegar um trampo de desenhista em uma editora (o teste para a vaga era uma aquarela de repolho; foi feito no improviso com água de privada). Em 1994, ele foi contratado para a agência Taterka, que fazia as lâminas de bandeja para o McDonald’s.
“As artes nas lâminas existem desde que o McDonald’s surgiu, mas a linguagem lúdica não era frequente. Era uma mídia meio morta. Na época, eu gostava de comer sozinho e, um dia, não tinha levado nenhuma revista para ler. Sem ter o que fazer, comecei a rabiscar na parte de trás de uma lâmina de bandeja e fiz um desenho de planetas, inspirado na revista Super Interessante. Levei a ideia para o meu chefe, e ele topou fazer”.
A primeira toalha de bandeja idealizada por Hiro mostrava os planetas do Sistema Solar (essa aqui em cima). A galera do McDonald’s se empolgou e pediu mais. No começo, ele fazia os textos e contava com a ajuda do ilustrador Adelmo Barreira para executar as ideias. Depois de um ano e meio, Adão saiu do time, e Hiro começou a também desenhar. Até 2014, foram impressas, ao todo, 4 bilhões de toalhinhas de bandeja feitas por Hiro (cada lâmina tem uma tiragem de 12 a 14 milhões).
“Hoje em dia, os temas são muito mais focados em eventos do McDonald’s e em campanhas institucionais, mas antes eu tinha liberdade total para criar. Eu procurava mostrar sempre algo curioso e divertido: dinossauros, hábitos de países, monstros, fundo do mar. Como não havia internet, eu pesquisava bastante em livros, caçava informações que você não acharia nem no Discovery Channel. Eu conversava com minha equipe sobre um tema, e a gente passava tardes discutindo ideias, nada muito regrado. Foi uma época divertida”.
Hiro se lembra de algumas das ilustrações que fizeram barulho: “Teve uma que ensinava a dizer ‘eu te amo’ em várias línguas. Houve muita repercussão, gente pedindo em casamento em outro idioma. A lâmina do ‘não custa nada fazer tal coisa’, sobre cidadania, também repercutiu. Muita gente colou em parede de repartição pública, de escola”.
O estúdio de Hiro Kawahara
Créditos: Gabriel Quintão
Apesar da visibilidade que conquistou graças ao seu trampo com as toalhas do McDonald’s, Hiro diz que isso também tem seu lado negativo. “Eu, hoje, trabalho como freelancer, e há gente que não me passa projetos novos porque acha que eu só faço coisas nesse estilo. É algo parecido com o que aconteceu com Martin Handford, o criador de Onde está o Wally?“, diz.
“Aos poucos, quero ir largando os trabalhos comerciais para me dedicar aos trabalhos autorais e pessoais. Eu tenho lançado livros a conta gotas, mas tenho muitas outras histórias para contar. Comecei a dar aulas de ilustração há cinco anos, o que foi ótimo para melhorar o meu traço. Eu tenho, agora, de fazer o que gosto,sejam livros, ilustrações, quadrinhos, aquarelas. Estou com 50 anos e não quero chegar ao fim da vida amargurado, sem ter realizado os meus próprios projetos”.
