Cartuns ultrajantes do Charlie Hebdo
Esta quarta-feira (7) começou com uma notícia triste: um atentado matou 12 pessoas que trabalhavam no periódico de humor Charlie Hebdo. Segundo testemunhas, o prédio da redação foi invadido por dois homens armados, supostamente muçulmanos (clamavam “vingança ao profeta”), que abriram fogo e depois fugiram. Outras 10 pessoas ficaram feridas.
Até agora, o mundo do cartum pode se despedir de alguns grandes nomes. Entre os mortos estavam os cartunistas Charb, apelido de Stéphane Charbonnier, diretor da publicação; Tignous, codinome pelo qual atendia Bernard Verlhac, Jean Cabut, conhecido por Cabu, e Georges Wolinski. Os quatro tinham passagem por inúmeros grandes veículos da França.
Este não é o primeiro ataque ao jornal Em 2011, um incêndio criminoso atingiu a redação, após a publicação de uma charge que zombava do profeta Maomé. Na época, o próprio governo francês pediu para que não publicassem a caricatura, temendo represálias em escolas e embaixadas.
Criado em 1969, passando por um hiato de 1981 a 1992, o semanário publicava artigos e quadrinhos polêmicos e irreverentes. Tendendo à esquerda, o tom das imagens publicadas era de não conformismo, fazendo sátira com relações diplomáticas e religiosas, que envolviam o Catolicismo, o Islamismo e o Judaísmo. Para entender melhor a possível motivação da revolta, algumas tradições do islamismo proíbem a representação visual de Maomé – inclusive, um episódio de South Park, que retratava o profeta como um urso, precisou ser reescrito após sofrer ameaças.
Nos últimos tempos, este tipo de comportamento vingativo tem colocado em jogo a relação entre países. No último mês, o lançamento do filme A Entrevista foi abalado por ameaças de hackers da Coreia do Norte.
O Brasil também já teve um caso semelhante: nos anos de ditadura , o semanário O Pasquim se tornou famoso por seu teor politizado, tornando-se um porta-voz da indignação social dos brasileiros.