Hall da Fama Coisa Velha
Quem viveu a infância nas décadas de 1980 e 1990 está sempre lembrando com saudade de brinquedos, comidas, desenhos, programas de TV e objetos da época nas redes sociais. Pensando nisso, ou melhor, lembrando dos seus tempos de criança, o jornalista e empresário Marcel Agarie, de 33 anos, resolveu fazer uma fanpage no Facebook reunindo tudo o que lhe trazia essas boas lembranças. Foi assim que nasceu, em março de 2012, o Coisa Velha, que hoje, sete meses depois, já conta com 155 mil “velhinhos” saudosos como fãs.
“Criei a página de forma totalmente despretensiosa. Este ano tive uma ruptura em um tendão do pé esquerdo e passei três meses, literalmente, com o pé para cima. Já tinha assistido todas as séries e todos os filmes que queria e não havia mais nada para fazer. Entre os meus passatempos estava o Facebook, então, resolvi começar a postar coisas relacionadas à minha infância para partilhar com meus amigos”, conta Marcel em entrevista ao Virgula Inacreditável.
Segundo ele, as postagens faziam certo sucesso entre seus amigos, que acabavam compartilhando com outros amigos e a “brincadeira” foi crescendo. Os posts consistiam basicamente em fotos de itens da cultura pop como brinquedos, guloseimas e personagens de que gostava. “Montei um arquivo com umas 300 imagens e ia publicando e avisando os amigos, que se empolgavam junto comigo e me pediam para incluir outras memórias no Coisa Velha”, explica.
Em julho deste ano, apenas quatro meses após o início das publicações, a quantidade de “likes” (número de pessoas “curtindo” e recebendo as postagens) começou a crescer de forma que nem Marcel sabe explicar por quê. “Em um mês a página tinha 500 seguidores, no outro já estava com 5 mil. Foi aí que percebi que a coisa estava ficando séria e passei a postar com maior frequência e interagir mais com as pessoas. Mais um mês e o número subiu para 100 mil, sem propaganda ou divulgações, apenas por causa do compartilhamento de imagens”, lembra.
Página recebe colaboração dos fãs
A resposta dos “velhinhos”, como Marcel passou a chamar os fãs da página, se tornou algo espantoso. Para se ter uma ideia, o post que trazia a imagem de um potinho preto de plástico (desses em que se guardava os filmes fotográficos das câmeras analógicas), teve 125 mil likes e mais de 10 mil compartilhamentos, desde a sua publicação, em 21 de julho. “Minha mãe que sugeriu a imagem dizendo: ‘Será que as pessoas vão lembrar o que é isso?’”, disse. Não só lembraram como também fizeram a “pegadinha” com outras pessoas,
indagando a mesma questão.
“O mais legal da página é justamente essa interação das pessoas. Hoje, reservo cerca de duas horas por dia, todos os dias, só para ler os e-mails que chegam com sugestões de coisas para publicar na página. Faço questão de ler e responder todos, e são mais de mil diariamente”, enfatiza.
A dedicação à página só é possível, porque o jornalista trabalha em esquema de home-office e, inclusive, passou a usar o Coisa Velha como case em gestão de Mídias Sociais – um dos serviços oferecidos por sua empresa – e vem sendo procurado por empresas que querem parcerias de negócio, por causa da fanpage.
Com base na popularidade de cada item, foi criado um álbum chamado Hall da Fama, onde as peças mais lembradas ficam reunidas. Lá estão coisas como Lango Lango, PogoBol, Kichute, Atari, faquinha de rocambole, balas, chocolates, personagens de desenhos, filmes e seriados… Também existe o Asilo Coisa Velha, para onde as pessoas mandam fotos suas antigas.
“Não tem um critério para as publicações, basta ser algo que fez parte da vida das pessoas e que várias pessoas se lembrem. Hoje 90% do Coisa Velha é atualizado a partir de contribuições enviadas por fãs, sendo aproximadamente 5 mil imagens postadas até agora. Se alguém me sugere algo que não sei o que é, pergunto para pelo menos cinco pessoas. Ee elas se lembram, pronto, já serve para o Coisa Velha”, brinca.
Entre os itens mais inusitados que foram lembrados na página, Marcel destaca o prendedor plástico do saquinho de pão de forma e as diversas coleções que as pessoas contam ter, como um rapaz dono de diversos refrigerantes antigos, como Gini e Crush, todos ainda fechados, intactos em suas embalagens.
Envelhecendo com histórias para contar
Para dar um clima ainda mais “vintage” à página, Marcel, junto com seu sócio, Sérgio Dias, que hoje ajuda a administrar a fanpage, criou o Caderno de Enquete Virtual, com perguntas como nos tempos do colégio. Foi lá que começaram a aparecer as respostas mais gratificantes vindas dos “velhinhos”.
“Uma vez uma pessoa deixou uma mensagem dizendo que se sentia infeliz com a própria vida, mas que nós (do Coisa Velha) mostramos, através daquelas lembranças, como ela tinha tido uma vida feliz. A pessoa agradecia por aquela oportunidade e aquilo me deixou muito emocionado”, diz, inteirando que, por coisas assim, faz questão de ter o maior cuidado com tudo que diz respeito à página, já que ela mexe com o emocional das pessoas, inclusive com o dele.
O lema do Coisa Velha, segundo seu fundador é: “Todo velho já foi jovem, mas nem todo jovem será velho com histórias para contar” e, portanto, o objetivo da página, hoje, é mostrar que envelhecer faz parte da vida. “Com o tempo ganhamos mais experiência, erramos menos, guardamos muitas lembranças e temos histórias para contar. Estamos conseguindo quebrar um preconceito, mostrando às pessoas que envelhecer faz parte da vida e é muito legal”, finaliza.
Unindo gerações
Com o sucesso no mundo virtual, é natural que os saudosistas e entusiastas do Coisa Velha quisessem se encontrar no “mundo real”. Desta forma, já foram organizados alguns encontros de fãs, em São Paulo.
No mês de novembro, será organizado mais um desses encontros, uma matinê no bairro de Pinheiros, que contará com atrações para pais e filhos, como exposição de “coisas velhas”, uma viagem no tempo com imagens e fotos, além de brincadeiras e músicas que fizeram parte da infância oitentista.
Mais informações sobre, na área de eventos da página www.facebook.com/CoisaVelha.