A clínica privada criada na Holanda para a prática da eutanásia, iniciativa única no país, informou nesta quinta-feira (01) que ajudou 51 pessoas a morrer em seu primeiro ano de existência, durante o qual recebeu um total de 456 solicitações.

A diretora da Associação Holandesa para a Morte Voluntária (NVVE), Petra de Jong, afirmou que 30 das eutanásias realizadas foram feitas pelos médicos dos pacientes após a consultoria da clínica. Os outros 21 casos foram realizados pelo próprio centro.

A eutanásia foi aplicada por meio de um soro, injeção e em alguns casos por remédios tomados diretamente pelo paciente, explicou a diretora da NVVE.

Petra disse que 94 solicitações foram negadas porque não se ajustavam aos critérios legais, 54 indivíduos morreram (três deles por suicídio) antes da aprovação da eutanásia e o restante dos casos ainda está sendo analisado.

A maior parte dos pacientes que recorreram à clínica, que conta com 15 unidades móveis, tinham problemas físicos, enquanto 48% sofria de algum tipo de doença psíquica.

“Quando criamos a clínica há um ano não podia imaginar que chegássemos tão longe”, contou à Agência Efe a diretora da NVVE, para quem a iniciativa “confirmou a necessidade deste tipo de atendimento, tanto para pacientes como para assessorar os médicos pessoais”.

Segundo Petra, “a lei oferece margem aos médicos de família praticarem eutanásias, mas estes, reticentes às mudanças, somente a aplicam em casos muito concretos, os mais claros”, que costumam ser dos doentes terminais de câncer.

Os pacientes com demência (7% dos pedidos) ou com problemas mentais (31%) são os mais difíceis de avaliar, segundo a organização.

“Nos casos de demência, os médicos costumam pedir no último momento possível uma última declaração de vontade do paciente, mas a lei estipula somente a existência de uma declaração escrita da pessoa enquanto ela ainda está lúcida”, elucidou Petra.

A associação estima que em 2040 meio milhão de holandeses sofrerão de demência. Uma das enfermeiras da clínica, Thera van de Berg, explicou à “Agência Efe” que nos casos de problemas psíquicos, onde a tendência ao suicídio é maior, “são realizadas muitas entrevistas, pois precisamos estar seguros de que o paciente passou por todos os tratamentos possíveis”.

Thera citou o exemplo de uma mulher de 41 anos, com tendência crônica ao suicídio, que teve seu pedido de eutanásia rejeitado pois apesar de ter sido tratada de depressão não fora medicada para controlar alterações de humor.

A lei holandesa, aprovada em 2002, estipula que as dores sentidas por uma pessoa que pede a eutanásia devem ser “insuportáveis” e todos os tratamentos possíveis devem ter sido tentados.

“Vivi a eutanásia do meu marido como um alívio para ele e para mim”, explicou a “Efe” Wilma Lourens, cujo companheiro, que sofria de paralisia total, morreu com ajuda da clínica em agosto.

Criada para cobrir a demanda de eutanásia em casos nos quais os médicos pessoais se negam a realizar a prática, a clínica privada para a morte assistida se depara com pedidos delicados, entre eles idosos que consideram que sua trajetória chegou ao fim.

“Rejeitamos todos os pedidos nestes casos porque não estão incluídos ainda na lei e nós não buscamos os limites legais”, disse a enfermeira.

Para esses casos, a NVVE sugere que o serviço de saúde do país forneça uma pílula legal para morrer, o que é rejeitado pelas autoridades.

A seguradora Menzis foi a primeira a assinar um acordo com a clínica para a eutanásia para incluir em suas apólices uma cobertura parcial das despesas de morte assistida, disse o diretor da empresa, Roger van Boxtel.

Dez anos após a eutanásia ter sido legalizada na Holanda, nenhum médico holandês foi até hoje processado por ter descumprido as condições estipuladas pela lei. 


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Clínica holandesa para eutanásia atende 51 pessoas em 1º ano de funcionamento