Claudio Tognolli


Créditos: Rafael Boro

Quem?!?! Jornalista investigativo e treinador de ações jornalísticos em locais de risco

APRESENTAÇÃO E TRABALHO NO HAITI
Carioca: Você é jornalista, professor de faculdade… O que mais você é?
Claudio Tognolli: Escritor!
Amanda: Mestre em psicanálise…
Carioca: Mestre em psicanálise, doutor em filosofia das ciências… Meu Deus, você ta com um título “irado”. Bom, mas nós estamos aqui para falar com ele sobre esse…
Amanda: Assunto da semana.
Carioca: Na verdade, os assuntos da semana. Porque, na verdade, nós estamos passando por uma fase turbulenta. Denúncias de pessoas da mídia tomando bala de fuzil. E você é um cara dessa área. Inclusive já até escreveu um livro que lançou aqui…
Claudio Tognolli: É, o “Mídias, Máfias Rock’N’Roll” foi lançado há dois anos aqui. Aliás, eu tava falando para o Pastor porque eu cancelei a primeira data naquela época, acho que agora não tem mais nenhum problema falar isso.
Carioca: Vamos lá. Agora dá pra contar.
Claudio Tognolli: Então, eu cobria muito o Haiti para a Folha de São Paulo durante muitos anos. E uma vez eu tomei uma porrada lá de uns “tonton macoutes”.
Carioca: Mas o que você foi fazer lá?
Claudio Tognolli: Nessa ocasião da porrada, era a oitava vez que eu estava lá. Daí, depois da invasão americana de setembro de 1994, você tinha que pagar 500 dólares para os tonton macoutes (em criolo significa Bicho-papão) que eram os seguranças da ditadura. Daí eu paguei, entrei e saí do país com dois jornalistas que não tinham pagado pra entrar. Então, quando eu voltei, falaram que eu ia ter que pagar em nome deles. Daí eu falei que não ia pagar nada e começaram a me cobrir de porrada com cabo de fuzil. Mas aí passaram alguns anos, meus dentes ficaram abalados e eu tive que ir colocando próteses. E quando eu vim no Pânico para lançar esse livro que estou lhe dando hoje, eu tinha acabado de operar a dentadura. Então eu tava morrendo de medo de perder as coisas aqui.

NÚMEROS REFERENTES AO JORNALISMO NO BRASIL
Carioca: Agora, vamos elucidar aqui o caso desse cinegrafista lá no Rio de Janeiro. Você não acha que houve um erro da imprensa no sentido de ter ido um pouco além?
Claudio Tognolli: Como assim?
Amanda: Ele não devia ter subido?
Carioca: você não acha que ele não deveria ter entrado naquele momento?
Amanda: Mas ele não entrou sempre?
Carioca: Eu sei, mas eu acho que ele foi um pouco além.
Amanda: Mas se ele não tivesse morrido, não iria existir essa discussão.
Claudio Tognolli: Eu trouxe aqui uns números para os ouvintes saberem o que acontece no mundo.
Carioca: Então vamos lá. Você está aqui para falar com propriedade sobre o assunto. Eu estou apenas emitindo a minha opinião.
Claudio Tognolli: Olha, de acordo com o quadro geral que eu peguei hoje do Comitê de Proteção aos Jornalistas, os dados são: no mundo, teve nesse ano 36 jornalistas mortos e desde 1992, quando começou a contagem, são 883 jornalistas mortos. E hoje, em 2011, você tem 649 jornalistas exilados de seus países porque estão sob ameaças. No Brasil, apenas em 2011, morreram cinco jornalistas, o que nos deixa, dentro da América Latina, atrás apenas do México, onde existe o “cartel Zeta” etc. Desde 1992, no Brasil, morreram 19 jornalistas, e olha os dados mais bizarros, 72% dos que foram mortos estavam cobrindo corrupção. E 56% de quem matou jornalistas no Brasil (isso daqui é engraçado) são agentes do governo, funcionários públicos.
Carioca: Tipo na prefeitura…
Claudio Tognolli: É, na prefeitura, deputado, governador. E 33% de quem mata são criminosos de profissão, mas não aqueles de terno e gravata.
Carioca: O que usa a meia calça na cabeça.
Claudio Tognolli: Isso! E como são avaliados esses casos? Quase 70% estão impunes, não se apurou e não se condenou quem cometeu os crimes. Agora, o mais bizarro no Brasil sobre essas ameaças a jornalistas é um recorde que temos de que no primeiro semestre de 2010, o google, recebeu 397 pedidos para que fossem retiradas matérias do ar, que é o dobro de pedidos que existiram na Líbia sob o domínio de Muamar Kaddafi. Daí dá para se ter uma ideia de como é o trato aos jornalistas por aqui.


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Claudio Tognolli