O chocolate não é somente um alimento que permite a expressão artística, mas uma ferramenta para defender a biodiversidade e lançar a mensagem de que temos que cuidar do nosso planeta, segundo o mestre chocolateiro Patrick Roger, prêmio de Melhor Artesão do Chocolate da França.

Suas esculturas gigantes de chocolate, algumas autênticas cenas da natureza com um peso de até oito toneladas, colocaram Roger no nível mais alto da confeitaria francesa e o transformaram em alto-falante de uma filosofia que vai além da degustação.

“Temos um problema que radica nos próprios consumidores: são eles os que querem tudo igual e se negam a comprar uma maçã que não pareça perfeita; os produtos são todos iguais e estamos perdendo a riqueza que temos”, afirma Roger em uma entrevista à “Agência Efe” em Madri.

Desde sua oficina de Paris, um espaço de 700 metros quadrados onde trabalham 40 pessoas, procura defender a inovação e criatividade, o que fez com que conquistasse o público através do bom gosto e da visão, tanto em suas nove lojas como nas mostras onde expõe suas obras.

Esculturas gigantes com hipopótamos, elefantes e orangotangos, homenagens a eventos históricos como os 20 anos da queda do Muro de Berlim ou os 40 anos da chegada do homem à lua, são obras concebidas para serem vistas, não para serem degustadas.

“O chocolate é um pretexto para criar”, explica o mestre chocolateiro de Poislay (centro da França), que visitou a Espanha para apresentar seu trabalho no marco da Madrid Fusión.

Sua capacidade criativa permitiu colaborar em áreas como a moda, com costureiros conhecidos como Jean-Paul Gaultier, e a música, com decorações para o concerto do cantor Sergé Gainsburg.

Na hora de comercializar seus produtos, Roger se dedica a explorar as possibilidades que o mundo vegetal oferece ao universo do cacau.

“Eu venho do campo, sou um amante das plantas, da botânica; é preciso defender estas produções pequenas, que estão muito maltratadas pela sociedade e que são maravilhosas quando se misturam com chocolate”, precisa.

O resultado são combinações de sabores inesperados, que buscam transmitir “o prazer pelo chocolate e o respeito à natureza”, produtos de sua própria horta, como o manjericão, o pimentão e o limão, que se transformam em base de chás para fundir com as texturas do cacau.

Roger defende que “o gosto se educa e se cultiva” mediante o descobrimento de sabores; por isso, além de ter seu próprio jardim como fonte de matéria-prima, procura produtos como limões do Brasil – com os quais elaborou uma de suas últimas criações, o bombom “Amazonas” – cacau do Equador, uísque escocês e pistaches do Irã.

Combinações nas quais, apesar de sua predileção pelas plantas, prevalece o chocolate, um produto “que não necessita marketing”, segundo Roger.

“O chocolate é bom, e ponto; não devem ser feitas mais perguntas. Estamos em um mundo no qual nos fazemos muitas perguntas”, diz Roger, para quem “o paladar dos clientes” é o melhor aval de seu trabalho: só sua loja principal de Paris recebe diariamente mais de 700 clientes. 


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Chocolate serve de ferramenta para defender biodiversidade, diz Patrick Roger