O número de meninas e jovens com risco de sofrer uma mutilação genital na Espanha aumentou 61% nos últimos quatro anos, e agora são quase 17 mil as menores de 15 anos nesta situação, filhas de famílias procedentes de países africanos nos quais esta prática é realizada.

Este dado faz parte do estudo Mapa da Mutilação Genital Feminina (MGF) na Espanha 2012, que nesta sexta-feira foi revelado pela antropóloga Adriana Kaplan, que dirige a Fundação Wassu da Universidade Autônoma de Barcelona (UAB) e trabalha há mais de 20 anos na prevenção deste costume, estendida principalmente a países da África Subsaariana.

O objetivo de dita investigação é prevenir a mutilação através de informação pormenorizada sobre a população em risco de sofrê-la na Espanha, e sua distribuição por regiões e municípios.

Adriana considera que isto “permite nos aproximar da realidade e é essencial para qualquer tipo de planejamento para a prevenção primária em saúde, trabalho social e educação”.

Trata-se, considerou Adriana, de “explorar o interior do número crescente de imigração subsaariana”, estabelecer a procedência, a idade e a distribuição da população no território espanhol para “orientar o trabalho preventivo dirigido ao abandono da prática”.

O relatório constitui na quarta atualização do mapa, com anteriores edições nos anos 2001, 2005 e 2009, o que permite ver a evolução da mutilação, estendida a 28 países africanos e que afeta mais de 140 milhões de mulheres no mundo todo devido à “diáspora” africana, de acordo com Adriana.

Segundo explicou a antropóloga, em algumas Comunidades Autônomas espanholas como o País Basco (norte), se optou por enfrentar a prevenção da mutilação e “já houve trabalhos para formar” seus profissionais da saúde.

No caminho contrário, Adriana afirmou que em outras regiões espanholas, como na Catalunha (nordeste), nos últimos anos foi rebaixado o nível de formação e se optou por recorrer à polícia para atalhar a mutilação genital feminina.

A Catalunha é a região que concentra mais jovens com risco de mutilação, com mais de seis mil meninas, o que representa 36,6% do total.

Os médicos de família, pediatras e ginecologistas de atendimento primário, “que já estão trabalhando com as famílias”, são os que deveriam ser formados para prevenir que as meninas de famílias africanas possam ser vítimas da mutilação, considerou Adriana, que afirmou que isto depende da “vontade política”.

Por outro lado, Adriana elogiou o denominado documento “compromisso preventivo” para evitar a mutilação genital quando as meninas viajam aos países de origem dos pais e no qual são informados os dados da menor, da pessoa responsável da mesma e do doutor que a atende.

Este compromisso por escrito permite aos pais não ter de enfrentar suas comunidades de origem e justificar a não mutilação de suas filhas, e é uma fórmula que respeita ao mesmo tempo a menina e os costumes de seus ascendentes, opinou Adriana Kaplan.


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Cerca de 17 mil meninas correm risco de sofrer mutilação genital na Espanha