Uma cacatua surpreendeu os cientistas ao criar seus próprios utensílios para alcançar objetos fora de seu alcance, uma habilidade sem precedentes em sua espécie, que, no entanto, se destaca por sua inteligência.
A cacatua goffiniana, que se chama Fígaro e vive em um cativeiro próximo a Viena, foi filmada em plena ação por pesquisadores das universidades de Viena e de Oxford, que publicaram nesta terça-feira (06) seus estudos na revista “Current Biology”.
No vídeo gravado pelos pesquisadores, Fígaro aparece utilizando seu bico para arrancar lascas de um tronco de madeira de sua jaula. Posteriormente, o animal usa essa mesma lasca como um restelo para tentar pegar uma noz que está fora de seu alcance.
Os pesquisadores começaram a estudar o comportamento da cacatua após observar a mesma brincando com uma pedra, que acabou caindo do outro lado de sua gaiola. Após várias tentativas frustradas de alcançá-la com suas garras, Fígaro pegou um pau e tentou “pescar” seu brinquedo.
Quando os cientistas substituíram a pedra por uma noz, o animal arrancou uma lasca de madeira de sua jaula e, após assegurar a medida exata, usou o utensílio criado para pegar o alimento.
“Já estávamos surpresos pelo fato dela utilizar uma ferramenta, mas não esperávamos que ela fosse capaz de fabricá-los”, assinalou a pesquisadora Alice Auersperg, da Universidade de Viena e principal responsável pelo estudo.
Segundo outro dos autores, Alex Kacelnik, da Universidade de Oxford, a cacatua “Fígaro nos demonstrou que, mesmo não sendo usuários habituais de ferramentas, os membros de uma espécie que é curiosa, hábil na resolução de problemas e que tem um grande cérebro podem esculpir utensílios para responder a uma necessidade nova”.
Anteriormente, Kacelnik tinha estudado outra espécie de pássaros que utiliza utensílios de forma espontânea, os corvos de Nova Caledônia.
Uma fêmea desta espécie, chamada Betty, também surpreendeu os cientistas ao fabricar ganchos para alcançar comida fora de seu alcance, uma habilidade sem precedentes, inclusive, para este tipo de aves.
“Continuamos tentando identificar as operações cognitivas que fazem possíveis estas façanhas. Fígaro e Betty podem nos ajudar a revelar muitas incógnitas na evolução da inteligência”, finalizou Kacelnik.