Com intenção de surpreender neste natal, os cocaleiros bolivianos colocaram à venda panetones feitos com farinha de folhas de coca, um novo produto da industrialização da planta que os traficantes usam para fabricar cocaína.
O gerente da Empresa Boliviana Comunitária da Coca (Ebococa), José Ugarte, declarou à Agência Efe que a companhia, que pertence a seis federações de cocaleiros da provincia de Chapare, fabricou aproximadamente 5 mil panetones para este natal.
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“O panetone de coca possui ingredientes habituais, como passas, frutas cristalizadas, açúcar e outras farinhas, mas se destaca por acrescentar “o ingrediente da energia”, que é proporcionado pelas fibras das folhas de coca, uma característica comum dos alcalóides, explicou Ugarte.
Ugarte assegurou que a coca, em quantidades controladas e em seu estado natural, não é prejudicial à saúde e não causa dependência. A farinha desta folha tem cálcio, ferro e vários tipos de vitaminas, além de facilitar a digestão.
A Ebococa é um dos projetos impulsionado pelo presidente da Bolívia, Evo Morales, para industrializar a coca e descriminalizar seu uso tradicional, como a mastigação da folha (“acullico”), na Junta de Fiscalização de Entorpecentes da ONU (Jife).
Na última quinta-feira (15), Morales pediu novamente aos inspetores da Jife apoiarem seu pedido de descriminalização do “acullico”. No entanto, o líder boliviano reconheceu que não conseguiu convencer todos integrantes da organização, que é presidida pelo iraniano Hamid Ghodse.
Cada panetone de coca custa US$ 4 e, por ser um produto novo, será vendido somente no departamento central de Cochabamba. Mas, em 2012, o produto deverá ser comercializado também em outras regiões bolivianas.
Segundo Ugarte, a Ebococa é a primeira empresa do país que começou a produzir de forma industrial derivados de coca. Neste mês de dezembro, primeiro mês de operações, a fábrica também produziu chás de coca e, posteriormente, deverá lançar uma nova linha, que inclui: refrescos, energéticos, licores, analgésicos, bloqueadores solares, balas e extratos.
“Nossa principal intenção é demonstrar que a coca também pode ser utilizada para produtos benéficos”, apontou Ugarte, que lamentou que “o mal uso da folha sagrada acaba restringindo sua utilização ao tráfico”.
O investimento feito para construir e equipar a fábrica de panetones de coca, a maior deste setor na Bolívia, foi de US$ 1,7 milhões. Isso porque, há dezenas de pequenas companhias que fabricam artesanalmente outros derivados da folha, cujo cultivo passou de 25,4 mil para 31 mil hectares desde que Morales chegou à Presidência.
Nos últimos anos, com apoio do Governo Morales, os cocaleiros da Bolívia lançaram vários produtos com base no extrato da folha da coca, assim como a famosa “Coca Cola”.
A Bolívia é o terceiro produtor mundial de coca e cocaína, ficando atrás da Colômbia e do Peru, e o principal fornecedor da droga para os países vizinhos do Cone Sul, segundo a ONU.
A Constituição promulgada por Morales em 2009 diz que “o Estado protege a coca originária e ancestral como um patrimônio cultural, um recurso natural renovável da biodiversidade da Bolívia, ressaltando que “em seu estado natural não se trata de um entorpecente”.