Ateliê de Daniel Ferreira
Daniel Ferreira, 24 anos, é um cara que teve de aprender a superar expectativas desde o dia em que nasceu, sem os braços, em razão de um tratamento com talidomia que sua mãe teve de fazer durante a gravidez. “Alguns parentes não apostavam uma ficha em mim; me viam como coitadinho”, diz. Acontece que ele não colocou freios em ambição alguma, mandou muito bem na vida e, pintando com os pés e com a boca, tornou-se um artista plástico dos bons.
Daniel, que mora e trabalha na Zona Leste de São Paulo, ganha a vida vendendo seus quadros e emprestando obras para exposições (dá uma olhada na galeria de fotos acima). Ele também dá palestras, pratica natação e dirige seu carro adaptado pelo trânsito insano da capital.
Sobre o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, celebrado nesta quarta-feira (3), ele opina: “Infelizmente, ainda precisamos ter dias especiais para lembrarmos das minorias, como os negros, os homossexuais e os deficientes. O Brasil não está preparado em nada para atender às necessidades dos deficientes. Não há acessibilidade. Nem escolas públicas nem privadas têm estrutura. Ainda temos muito pelo que lutar”.
O rapaz fala com propriedade sobre o assunto, já que teve de brigar muito para conseguir estudar em uma escola pública regular, a partir dos sete anos de idade. A diretora argumentava que a instituição estadual não tinha suporte para receber um aluno com necessidades especiais. O pai dele, Francisco, foi quem teve de construir uma carteira especial, sem ajuda do Estado, para que Daniel pudesse escrever com os pés.
Nas aulas de arte, o rapaz tomou gosto pelo desenho e pela pintura, adaptando o que aprendia para fazer com os pés. Aos 10 anos, fez seu primeiro quadro e, aos 17, foi aceito na organização internacional Associação dos Pintores com a Boca e os Pés, por meio da qual ele vende suas obras.
“Nós, deficientes, recebemos mais nãos do que a maioria das pessoas, mas temos de nos impor. Eu tenho sorte por ter uma família que me apoia com unhas e dentes, pessoas que sempre disseram, ‘Você tem de se expor’. A partir do momento em que você se mostra para a sociedade, está sujeito a olhares de dó, de nojo, de preconceito, de rejeição. No entanto, eu me imponho. Você sempre sabe que vai ser difícil e que você vai quebrar a cara, mas vale a pena”.