Nos últimos anos, polêmicas envolvendo adolescentes com distúrbios alimentares trouxeram à tona a questão do exagero para se ter um corpo perfeito. Em 2006, a modelo Ana Carolina Reston chegou à fase crítica de um desses distúrbios – a anorexia – e morreu. O problema mais alarmante, no entanto, não é a doença em si, mas a apologia feita em torno dela. No Orkut e em diversos blogs, não são raras as campanhas de adolescentes prós ANA e MIA – apelidos carinhosos para anorexia e bulimia, respectivamente –, com parabenizações às pessoas que perderam ainda mais peso.

No mundo anônimo e virtual, jovens encontram com quem dividir suas dúvidas, trocar dicas de como emagrecer mais rápido e até mesmo de como esconder seu problema dos pais. Os transtornos alimentares, tão prejudiciais ao indivíduo, são encarados por Anas e Mias como “estilos e filosofias de vida”.

“Se você gosta de ser gordinha, eu te respeito. Dá pra você me respeitar também?”, argumenta A. T., em uma comunidade do Orkut. A. T. tem 14 anos, 1,69m e espera, “se Deus e as dietas quiserem”, chegar aos 42 quilos. “Você tem idéia do que são 42 quilos? Você é louca, menina!”, rebate a estudante Caroline Silva, 20.

Caroline tem um “passatempo”, no mínimo, original. Fica tardes inteiras tentando convencer dezenas de Anas e Mias a deixarem de lado a fixação pela magreza. “Faço isso porque minha irmã já passou por essa situação e sei o quanto é difícil. Não importa se elas me xingam, vou insistir até elas se tocarem.” E dá a dica: “Para identificar se uma pessoa é Ana, basta notar se ela está muito abaixo peso e, mesmo assim, vive dizendo que tem medo de engordar. Pode ter certeza, aí tem coisa”, afirma.

Preocupadas com a incidência desses distúrbios e pressionadas pela mídia, agências de modelos vêm proibindo a contratação de jovens com o peso muito abaixo do normal. Para protestar contra a “ditadura da moda”, em 2006, o estilista Jean Paul Gaultier fez um desfile em Paris com uma modelo que pesava pouco mais de 100 quilos. “Atitudes como essa são ótimos exemplos de como se portar diante da situação. É preciso que as pessoas se dêem conta do problema o quanto antes”, alerta Caroline.

Repensar o padrão de beleza atual e saber identificar se pessoas próximas a você sofrem algum desses distúrbios já é um grande passo. Porém, na hora de ajudá-las, é preciso paciência. O tratamento dessas doenças não é nada fácil e envolve o acompanhamento de nutricionistas e psicólogos. A estudante de Publicidade Marjorie Emy, 18, dá o seu conselho: “Sabe o ‘no pain, no gain’ (sem dor, não há ganho)? Pois é, ensine a pessoa a trocar o ditado por outro: ‘corpo são, mente s㒔!

COM DOR E SEM GANHOS

O lema “quanto mais magra, melhor” é adotado por modelos e não-modelos que se identificam com esse padrão de beleza. Frente à dificuldade em se alcançar o “corpo dos sonhos”, acabam adotando muitas vezes saídas prejudiciais ao corpo, como o uso de anfetaminas e a prática de dietas sem aconselhamento médico. Resultado: o número de jovens com doenças como anorexia e bulimia é cada vez maior.

No caso da anorexia, por exemplo, a pessoa se enxerga muito acima de seu peso e, para livrar-se dos quilinhos a mais, se recusa a comer. Segundo a médica Elizabeth Emi, a perda de peso representa uma enorme conquista para os que sofrem da doença. “A perda de um grama que for significa, para eles, um imenso teste de autocontrole, uma vitória. É absurdo o que esses jovens fazem para alcançar o peso que desejam”, afirma.

As pessoas que sofrem de bulimia se alimentam, sim, e muito. O que acontece é que elas têm compulsões periódicas, ou seja, ingerem, em um período limitado de tempo – cerca de 2 horas -, uma quantidade de alimentos maior do que a maioria das pessoas conseguiria consumir. De acordo com Elizabeth, essa alimentação é seguida por “métodos compensatórios inadequados” para prevenir o aumento de peso. “O principal método é a indução de vômito, mas há também o uso de laxantes e diuréticos”, conta. Na realidade, anorexia e bulimia são doenças relacionadas e, por isso, não é raro encontrar alguém que sofra dos dois distúrbios.


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Ana e Mia: sites ajudam a agravar anorexia e bulimia