Quando a designer gráfica Fernanda Araújo, 28 anos, mudou-se de volta para um apartamento no centro de São Paulo depois de morar cinco anos em Florianópolis, descobriu que passara a achar esquisita a idéia de comprar as hortaliças que compõem parte importante da sua dieta. “É uma questão de confiança mesmo. Acostumei a botar na mesa muita coisa que eu via literalmente nascer, então até quando é de feira não é igual”, explica.

Sem a facilidade do quintal amplo que tinha na capital catarinense, onde morava no Canto dos Araçás, na Lagoa da Conceição, Fernanda resolveu improvisar. Antes mesmo de comprar floreiras, plantou tomateiros nas mini-canoas que tinha trazido para decoração, deixou-as na área de serviço do apartamento e acabou criando um pequeno complexo agrário doméstico que anexou também o quarto da empregada e já produz também rabanetes, cenouras (“essas dão mais trabalho”), cebolinha, alface, manjericão e vários temperos.

Ela frisa, entretanto, que não é preciso ter tanto espaço assim para iniciar uma plantação caseira urbana. Para plantar suas pimenteiras, a publicitária Carolina Silva, 25, alojou-as no tanque de lavar roupa. “Eu quase não usava mesmo”, diz. A participação do que planta na comida que leva à mesa é irrisória, confessa, mas o cuidado que dispensa ao que chama de micro-horta é suficiente para causar orgulho, que não disfarça. “Até meu gato aprendeu a respeitar as plantinhas”, garante.

O engenheiro agrônomo Marcelo Noronha criou até uma empresa para projetar hortas de acordo com as diferentes necessidades das pessoas e atende principalmente apartamentos. “Em dois anos, devo ter feito uma cem hortas”, avalia. O perfil dos clientes que o procuram inclui esportistas, mães de filhos pequenos, chefs de cozinha e toda espécie de pessoas interessadas em alimentação saudável. Além da finalidade alimentar, observa, muitos optam por hortas em casa como recurso paisagístico de decoração.

A comunidade Horta em Casa, do Orkut, reúne cerca de 2,5 mil pessoas que trocam dicas e experiências, desde técnicas sofisticadas até os conhecimentos mais básicos sobre preparação da terra, adubagem, recipientes e tipos de sementes e mudas. Os agricultores urbanos também compartilham conhecimento em blogs e sites. Muitas escolas também procuram Marcelo para fazer oficina de criação de hortas. “As pessoas só vêem a comida pronta, é importante saberem de onde vem”, diz. Não há, ensina, um mínimo de infra-estrutura necessária para fazer uma horta. A única coisa fundamental é bater sol; já houve casos de locais em que o sol só batia em um determinado ponto da parede e foi preciso fazer plantações verticais ou suspensas. “É claro que exige um pouco de disciplina. Mas é muito mais fácil do que parece”, afirma Fernanda.


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A comida que nasce em casa

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