Se uma das reclamações mais comuns em relação a muitas cantoras da nova cena independente de SP é a indolência dos vocais – crítica também comum a diversas vozes da MPB -, Tulipa Ruiz passa longe do estereótipo garota fofa de voz doce e letras açucaradas.
Trazendo para os palcos profissionalmente o que antes era um passatempo, Tulipa mostrou ao público do Auditório Ibirapuera que sua voz de fada é muito mais do que uma promessa – é a concretização de um sonho, apoiado em um belo CD de estreia, Efêmera, e em uma performance segura e digna de um show especial de lançamento.
Tulipa Ruiz é voz. E que voz. Enquanto que em seu CD a cantora conta com um grupo de apoio poderoso, com convidados como Mariana Aydar, Tiê, Tatá Aeroplano, Iará Rennó, Kassin, Juliana Kehl, Leo Cavalcanti, as Negresko Sis (Céu, Thalma de Freitas e Anelis Assumpção) e Donatinho, no palco a cantora está nua. Claro, sua competente banda de apoio está por ali, mas Tulipa está exposta, em uma prova de fogo. É sua voz contra a plateia, é o seu poder de encanto contra o espaço comportado do Auditório Ibirapuera.
E ela venceu. As canções de seu primeiro álbum, como Pontual, Pedrinho, Brocal Dourado e Aqui soam lindas no palco, sem medo do silêncio que por vezes transparece em meio a algumas pausas dos instrumentos. A cantora não teme o intervalo, não precisa fazer barulho para ser ouvida.
Às Vezes e Sushi, duas das melhores canções do álbum (compostas por Tulipa em parceria com seu pai, Luiz Chagas), foram alguns dos destaques do show, que contou com a participação especial de Marcelo Jeneci e Dudu Tsuda.
Uma das participações, entretanto, não foi muito bem planejada – a de Mariana Aydar. Todo o público que acompanha as apresentações de Tulipa nos últimos anos em SP espera com ansiedade que a cantora toque uma de suas melhores canções, Só Sei Dançar com Você. Exatamente por isso, foi decepcionante não ter a oportunidade de ouvir a voz de Tulipa em grande parte da canção, cantada quase inteira por Mariana Aydar, que não tem nem de longe o mesmo alcance vocal da dona da noite.
A incrível banda de apoio também colaborou para o sucesso da noite. Além de Luiz Chagas e Gustavo Ruiz (irmão de Tulipa e responsável pela produção de Efêmera), Tulipa trouxe ao palco os músicos Márcio Arantes, Duani, Stéphane San Juan e Donatinho. Equipe de craques que soube reproduzir fielmente a atmosfera do álbum sem sobrepor a voz da cantora em nenhum momento.
Agora é aguardar – para que o repertório do álbum evolua nos próximos shows, para que a cantora adicione novas músicas a seu setlist e recrie seu som com a evolução natural da turnê. Mas tudo isso é para o futuro: por enquanto, Tulipa é só amor e alegria com seu show repleto de acertos e um lindo CD de estreia.