O caricaturista e escritor brasileiro Ziraldo Alves Pinto considera que o VI Prêmio Ibero-americano de Humor Gráfico Quevedos, que recebeu nesta quarta-feira (21) na cidade de Alcalá de Henares, na Espanha, é o mais importante de sua carreira.


 


Em entrevista horas antes de receber o prêmio, Ziraldo se mostrou emocionado pelo carinho com o qual foi recebido na Espanha e equiparou o Quevedos ao Prêmio Cervantes.


 


Com a distinção, Ziraldo se torna o primeiro ganhador de idioma não hispânico a ganhar o prêmio, que destaca a importância da obra e o compromisso social, algo que “todo artista deseja porque o homem trabalha à espera do reconhecimento”, assegura.


 


“Há uma ansiedade enorme de realização no ser humano. Por isso quando se tem uma resposta para essa ansiedade, o homem fica realizado. E essa é a sensação que tenho ao receber o prêmio”, disse Ziraldo.


 


Em seu discurso de agradecimento pelo prêmio, citando os pintores espanhóis Goya, Miró e, sobretudo, Picasso, sua “maior fonte de inspiração”, Ziraldo disse estar “muito, muito emocionado” com o prêmio.


 


O desenhista brasileiro, cujo nome é uma combinação do de sua mãe, Zizinha, com o de seu pai, Geraldo, disse que “não existe humor sem uma certa crueldade, embora exista muita crueldade sem humor”.E esse humor cruel, continuou, é o que está presente no “espírito espanhol, que provoca um sorriso que nos faz sangrar”.


 


O prêmio “Quevedos” é o principal da bienal que reúne os Ministérios de Cultura e de Assuntos Exteriores da Espanha, com orçamento de 30 mil euros e promovido pela Universidade de Alcalá de Henares.


 


Com mais de 70 anos de trajetória profissional, Ziraldo criou um universo povoado de personagens que fazem parte do imaginário coletivo brasileiro – alguns deles ganharam o cinema – e com os quais deu voz e personalidade questionadora.Protestos em favor do desarmamento, apoio ao transplante de órgãos, consciência ecológica e o compromisso com a educação estão entre algumas das mensagens que os traços e as palavras trazem a seus leitores.


Entre os personagens, destaque para o Meninho Maluquinho, o Pererê, Jeremias, o Bom, A Supermãe e o Mineirinho.


 


Nascido em Minas Gerais em 1932, Ziraldo disse que embora “todos desenhem obsessivamente desde crianças, há dois grupos de humoristas: os ilustradores e os que juntam a qualidade ao desenho, com uma visão crítica do mundo”.O cartunista faz parte do segundo grupo, porque considera essencial “duvidar de cada afirmação e porque é o porta-voz de uma máxima que circula por todo o país e que é o tema de um programa de televisão coordenado por ele: ler é mais importante que estudar”.


 


Seu compromisso com a infância está refletido em seus livros infantis, uma das atividades às quais mais tempo dedicou e pela qual obteve mais reconhecimento no Brasil, desde que publicou “Flicts”, em 1969.


 


Aos 77 anos, Ziraldo mantém uma atividade frenética e um forte compromisso com seu país, convencido de que “o artista do Brasil tem uma obrigação com seu povo mais importante que a de um artista de França, Espanha ou Inglaterra, porque a vida o colocou em uma situação especial”.”Um artista como eu pode falar para muita gente, pode abrir consciências, pode inquietar as pessoas. Isso é algo que não pode ter como missão, mas não pode evitar que seja”.


 


Além disso, disse que “no Brasil está tudo por fazer e, por isso, a escolha do Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos de 2016 é muito importante para a auto-estima do povo e para demonstrar que a violência urbana não reflete o brasileiro”.


 


O apego à cultura local não impediu Ziraldo de colocar a universalidade nos seus trabalhos, outra das razões pela qual foi premiado e que atribui ao fato de ser um artista do Terceiro Mundo, aos quais define como esponjas, “porque estar à margem permite ter mais informação sobre o mundo”.


 


Com um emocionado “muitas vezes, muito obrigado” e rodeado por alguns de seus personagens como o Menino Maluquinho, Ziraldo se despediu dos presentes no evento, no qual esbanjou sorrisos e abraços.


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Ziraldo recebe prêmio Quevedos 2008 na Espanha