Quem se aventura no centro da cidade para conferir a extensa programação da Virada Cultural, que em 2010 chega a sua sexta edição, já sabe o que vai enfrentar: multidões nada educadas pelo caminho, lixo amontoado em todos os locais, som ruim em diversos palcos e muito cansaço para pouco retorno.
Mesmo assim, a Virada Cultural 2010 trouxe um público extenso (calculado em cerca de 4 milhões de pessoas) para as ruas de São Paulo na noite deste sábado (15), que se espremeram em frente aos palcos para assistir a shows de artistas como Booker T, Living Colour, L.A Guns e Krisiun, além das cantoras Céu, Karina Buhr, Tulipa Ruiz e Pitty, acompanhada por sua banda oficial.
Infelizmente, a programação musical da Virada este ano não conseguiu reunir grandes atrações internacionais. Além das apresentações de grupos sem expressão, caso do Abba Cover (que inclusive teve problemas com a justiça brasileira por propaganda enganosa) e Grand Mothers Re:invented (lendário grupo liderado por Frank Zappa e que chega ao Brasil com apenas um integrante original), o evento deslocou as apresentações de rap para a periferia, escalando artistas como Rappin Hood, Thaíde e Emicida apenas para os palcos dos CEUs da cidade. Em 2010, quem ganhou mesmo foi a Virada Cultural Paulista, que traz cerca de 700 atrações para 29 cidades da Grande São Paulo (entre os artistas escolhidos estão Cat Power, Mudhoney e Yan Tiersen).
Em meio a tantos problemas, quem conseguiu brilhar foi a leva de artistas independentes que se apresentaram nos palcos da Cásper Líbero, como Karina Buhr, Tulipa Ruiz, Nervoso e os Calmantes, Black Drawing Chalks, Caldo de Piaba e Galinha Preta. Outro palco que conseguiu animar – e muito – o público foi o da Vieira de Carvalho, que trouxe shows como o de Sidney Magal (um dos mais lotados do evento), Luis Caldas e Wanderléia.
O show dos americanos do Living Colour (que se apresentaram no ano passado no Brasil) também atraiu uma multidão para a Praça Júlio Prestes. Em quase duras horas de show, o grupo apresentou diversos clássicos de sua carreira, além de apresentar o repertório de seu álbum mais recente, The Chair in The Doorway. Não importa o desafio, parece que o Living Colour está sempre a altura, mesmo quando não entrega ao público um show grandioso ou particularmente inventivo.
Outra atração que atraiu a curiosidade do público foi o projeto Trem das Onze. Em comemoração ao centenário de Adoniran Barbosa, o projeto lotou a Estação da Luz com uma multidão que esperava ansiosa para viajar pela história de Adoniram com a apresentaçao do coral Bossa Nossa.
Mas a cereja do bolo foi mesmo a apresentação da lenda da Stax Booker T. Jones, que mesmo sofrendo todos os inconvenientes de uma estrutura de som duvidosa conseguiu emocionar seus fãs que se amontoaram para assistir, na íntegra, seu show de cerca de uma hora.
O evento continua até às 18h de hoje (16) com shows de Arlindo Cruz, Letieres Leite e Orkestra Rumpilezz, Titãs, Big Youth e Mallu Magalhães.
O problema mais crítico de um evento tão grande como a Virada Cultural é a questão da continuidade – todo o intuito da programação cultural é trazer uma contribuição para a cidade que não seja restrita ao final de semana do evento. A ideia é ter continuidade, projetos que coloquem as pessoas na rua para contribuir com atrações culturais.
Entretanto, assim que a maratona de shows, workshops e outras atrações termina, o diálogo também se esvai. Desta forma, fica difícil aproveitar de maneira completa o privilégio que é assistir a grandes shows de forma gratuita e em um evento que se propõe a trazer uma overdose de cultura para qualquer pessoa que queira participar.