As Velhas Virgens estão de volta. Quatro anos após o lançamento de Cubanajarra, os paulistas colocam novo trabalho na praça – sempre de forma independente, como permanece ao longo de seus 23 anos de estrada: Ninguém Beija Como as Lésbicas, uma ópera-rock sobre um gênio da garrafa, Genelvis, que teme o fim de seu prestígio após o lançamento de um filme que inclui revelações feitas por sua ex-esposa.
A história parece cabeça, mas o CD faz jus ao estilo característico da banda, que investe em letras sarcásticas sobre mulher, cerveja, jogo e festa – ou tudo junto – e arranjos calcados em blues e rock setentista, com pitadas de punk e outros estilos. Se bem que, dessa vez, até que houve algumas inovações, como a balada A Última Partida de Bilhar.
Em entrevista ao Virgula, o guitarrista Alexandre Cavalo fala sobre o novo álbum, os outros trabalhos recém-lançado pela banda – a HQ As Eletrizantes e Etílicas Aventuras das Velhas Virgens – e . Leia abaixo!
No novo disco, o Velhas Virgens traz novidades musicais. Até uma balada (A Última Partida de Bilhar) está no repertório. O grupo buscou mesmo explorar outras sonoridades ou foi algo natural?
Como fazia muito tempo que a gente não gravava nada novo, chegamos com muitas músicas. Eram mais de 50. Então, optamos por fazer a ópera-rock. Escolhemos as músicas que se encaixavam na história e ainda tive que compor uma pra fechar (Cafajeste). Acho que, por conta disso, acabamos explorando outros territórios. Além disso, estamos mais velhos e mais criativos.
Como foi a participação do dramaturgo Mario Bortolotto nos vocais da música Bortolotto Blues?
O Mario é nosso amigo há anos. A Gabaju (gravadora da banda) lançou um CD, Tempo Instável, em que ele canta com um big band. E como o refrão da música era algo que o Mario falava na mesa de bar, achamos justo convidá-lo pra cantar e ficou duca.
O Velhas Virgens está há 22 anos no meio independente, caminho hoje seguido por várias outras bandas. Como avalia essa cena? Ainda vale a pena? A Internet interferiu no trabalho de vocês?
Completamos 23 anos em outubro. A cena independente hoje é a única que vale a pena ser explorada. Tem muita gente que não amadureceu, mas tem várias coisas boas. Acho que, para uma banda, as gravadoras deixaram de ser uma opção interessante. Cuidar da sua própria carreira parece muito mais atrativo e a internet tem papel crucial nisso.
De onde surgiu a ideia de lançar um projeto de história em quadrinhos com temas da banda?
Eu sou roteirista de HQs há tanto tempo quanto toco na banda. Montei as histórias e uma galera de um estúdio de Porto Alegre me mandou os personagens prontos. Levou um ano pra ficar pronto e mais um tempinho pra sair. Agora tá mole. Já começamos o livro número dois. Os caras que desenharam foram o Deivu Costa e o André Andrade.
Hoje, como avalia o rock nacional? Faltam bandas irreverentes e que sigam a filosofia “sexo, álcool e rock and roll” como vocês?
Num país cheio de ritmos interessantes como o Brasil, é muito fácil entender por que o rock não é uma coisa popular. Mas não acho que isso cerceie as bandas. Se garimpar, vai achar gente de todos os tipos e gostos. O que falta é tempo para amadurecer o trabalho, fazer uma carreira e arrebanhar fãs.
O Velhas Virgens tem 23 anos de carreira e lançou recentemente CD, HQ e livro (Velhas Virgens: 18 Anos de Bar em Bar, de 2006). Quais são os próximos projetos?
Queremos lançar ano que vem o filme do (cineasta) Ângelo Ravazzi (Velhas Virgens, Atrás de Cerveja e Mulher). É um documentário sensacional e que entrou em vários festivais. Também queremos fazer o show da ópera-rock, que será diferente do que vemos fazendo. E vamos nos preparar para comemorar 25 anos de carrreira com CD novo, livro de HQ etc. O Paulão (vocalista) e eu escrevemos dois livros que devem sair em maio. Resumindo: não pretendemos sair da estrada tão cedo.
No texto que acompanha o disco novo, vocês dizem que estamos em tempos em que “tudo está sendo gradualmente proibido com a conivência de uma sociedade reacionária e hipócrita” e “o rock não contesta mais nada”. A Velhas Virgens se sente, de certa forma, uma banda de protesto contra tudo isso?
Não somos uma banda de protesto, mas sim crítica. O que fazemos é colocar temas nas nossas músicas que vão botar a galera pra pensar. Estamos vivendo um momento de uma sociedade cada vez mais reacionária e não sabemos onde isso vai parar. Alguém tem que falar sobre o cotidiano e nos propomos a isso. Mas, acima de tudo, pregamos a liberdade e a alegria sem preconeitos.