O álbum de estreia do Florence and The Machine, Lungs, é uma bomba poderosa. Dominada pela personalidade explosiva e pela voz intensa de Florence Welsh, a banda traz em seu primeiro trabalho de estúdio músicas já bem conhecidas pelo público londrino, em um álbum que dividiu a crítica após conquistar o Critics Choice Award 2009.
Tudo em Lungs é extremo: a voz de Florence, que chega a agudos impressionantes tanto ao vivo como em estúdio; o excesso de instrumentos em todas as faixas, mesmo que a banda seja formada apenas por guitarra, bateria, teclado e harpa; os coros que multiplicam a voz da vocalista a ponto das músicas ganharem um certo tom de ópera; e o teor teatral das letras, que falam de relacionamentos intensos, suicidas.
A beleza das composições é inegável músicas como Howl, Drumming, Between Two Lungs, Cosmic Love e My Boy Builds Coffins são harmoniosas e trazem um competente trabalho instrumental. As letras depressivas dão o tom do álbum e foram compostas pela vocalista, segundo ela mesma, apenas quando estava bêbada ou de ressaca.
A produção é estrelada e contribuiu muito para que o álbum não se perdesse e não se tornasse apenas em uma coleção de músicas cafonas. Rob Ackroyd, que já trabalhou com Bloc Party e Maximo Park, James Ford, responsável por trabalhos do Arctic Monkeys, Klaxons e Last Shadow Puppets, e Steve Mackay, da cantora M.I.A, lapidaram o trabalho de Welsh, que agora passa longe da demo do primeiro single, A Kiss With A Fist com uma sonoridade que parece pronta para a trilha de um filme de fantasia.
Não tem como negar que o vocal de Florence é mesmo o grande trunfo (e, para muitos críticos, a desgraça) do disco. É o tipo de cantora que ou você ama ou não consegue nem ouvir. Para quem gosta do estilo emocional e exagerado, muitas vezes até meio fantasioso, Lungs é um álbum irretocável. Até quem acha que Florence passa do limite na projeção de seus agudos não pode negar que a entrega da cantora, tanto no álbum quanto ao vivo, a faz superar muitas das queridinhas da cena indie.
Florence consegue ir além de Little Boots, La Roux, Laura Marling, Ladyhawke e Duffy, com um vocal muito mais trabalhado, e tem a vantagem de ter um repertório mais consistente do que Adele (que também possui uma voz incrível) e variar sua sonoridade para não se tornar repetitiva, falha que acomete Natasha Khan e seu Bat For Lashes.
Com toda essa potência vocal, Florence Welsh conseguiu emplacar um premiado álbum de estreia, que não será esquecido tão cedo. Resta saber como será seu segundo álbum, e se o Florence and The Machine romper a barreira do hype inicial.