A presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Lúcia Stumpf, acredita que a entidade conseguiu atrair mais jovens para o movimento estudantil ao aproximar suas bandeiras do cotidiano do jovem brasileiro. A gaúcha de 27 anos deixa o cargo no domingo (19), quando a nova diretoria será eleita no 51° Congresso da UNE (Conune), em Brasília. São esperados 10 mil participantes no encontro, entre alunos, autoridades e palestrantes.

“A gente trouxe para dentro do movimento estudantil discussões que sempre permearam a vida do estudante, mas que não faziam parte da pauta da UNE. Por exemplo, a legalização do aborto, o debate sobre a Lei Seca, a descriminalização das drogas, a homofobia. Nunca deixaremos de discutir as questões nacionais, mas avançamos muito ao trazer para o movimento estudantes que não se identificavam com esses debates”, disse em entrevista à Agência Brasil.

Apesar de haver a possibilidade de reeleição, Lúcia não quer disputar o cargo novamente e, diferentemente de muitos ex-dirigentes da entidade, afirma que não seguirá carreira política. Recém-formada em jornalismo por uma faculdade particular em São Paulo, ela diz que agora vai “correr atrás de emprego”.

“Eu tive toda uma vida de atuação no movimento estudantil porque sempre acreditei muito na necessidade de transformar o país em um espaço mais justo, democrático. Quero sair da UNE com essa mesma disposição, mas acho que posso fazer isso por outros meios que não só a política institucional. Não se transforma o Brasil só dentro do Parlamento”, afirma.

Próximos passos

No Congresso Nacional, a próxima gestão da UNE terá uma causa importante para defender. No ano passado o Senado aprovou um projeto de lei que estabelece cotas para meia-entrada dos estudantes em eventos culturais. “Tivemos um grande embate com os artistas no Senado e saímos de lá derrotados. Na Câmara esperamos que seja diferente, porque nas comissões em que o assunto foi debatido parece que os deputados estão mais dispostos a barrar as cotas no PL [projeto de lei]. Queremos garantir a regulamentação da meia-entrada para que os estudantes tenham esse direito, mas sem restrição, porque a juventude precisa do acesso à cultura”, argumenta.

A presidente da entidade acredita que do Conune pode sair uma pauta comum dos estudantes para as eleições de 2010. “Não apoiamos candidatos porque essa não é a função da UNE, mas apoiamos projetos. E essa leitura dos estudantes sobre o quadro político do país e quais projetos precisamos para investir mais na educação e na juventude será desenhado agora.”

Lula x UNE

Lúcia Stumpf é ligada ao PCdoB, assim como os últimos ex-dirigentes da entidade. Nos últimos anos, a UNE recebeu críticas de que teria estreitados os laços com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e amenizado o seu discurso. Ela admite que o relacionamento da organização com o governo federal mudou desde as eleições de 2003 e avalia que “Lula tem um diálogo mais próximo com os movimentos sociais e sempre teve sensibilidade para ouvir as pautas dos estudantes”. Mas nega que a independência da UNE esteja comprometida.

“A UNE tem 72 anos de história e ao longo do tempo tivemos diferentes relacionamentos com os presidentes que se sucederam. Em 1973, por exemplo, a UNE foi fundada com o apoio de Getúlio Vargas. Nós tivemos também uma relação muito boa com João Goulart, que nos encomendou um projeto de reforma universitária. Depois tivemos grande atritos como na ditadura militar, depois com o presidente Collor, além do governo FHC, que desmontou a universidade pública e patrocinou a expansão do ensino privado”, disse.

Enem e sede da UNE

Na avaliação da presidente da entidade, o projeto de unificação do vestibular das universidades federais a partir do novo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e a reconstrução da sede da UNE no Rio de Janeiro foram marcos importantes da sua gestão. A sede da entidade foi queimada em 1964 durante a ditadura militar. Nos anos 80, o prédio acabou demolido e o terreno se transformou em estacionamento. Segundo ela, as obras da nova sede da UNE devem começar em dois meses.

“Tivemos muitos avanços nos últimos anos e todos eles vieram impulsionados pelos estudantes. As pressões acontecem, as mobilizações acontecem e nós temos resposta do governo. Nenhum grande avanço veio como um presente, mas foi fruto da nossa revindicação”, ressalta.


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UNE conseguiu atrair mais estudantes para o movimento, avalia presidente

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