Não existe mesmo lugar bom em São Paulo para a realização de shows internacionais de grande porte. Se o Pacaembu é vetado pela lei, a Arena Skol tem um sistema de som horroroso e o estádio do Morumbi é de difícil acesso, a Chácara do Jockey torna-se um pasto quando chove. A prova definitiva disso foi vista neste sábado (21), quando os americanos do The Killers fizeram show – e que show! – para 12 mil pessoas, de acordo com a organização, em sua segunda passagem pelo Brasil.
Às 20h15, quando a apresentação começou (e cerca de duas horas após o início do temporal que caiu em diversas regiões de São Paulo), o gramado do local havia se transformado em um lamaçal, com várias poças enormes – em algumas delas, a água chegava na altura do joelho. Para completar a tortura, boa parte dessas “piscinas” ficava na pista Premium, lugar onde o público pagou salgadíssimos R$ 350 para estar.
Ainda bem que, como disse o vocalista do Killers, Brandon Flowers, o paulistano foi “very brave” (muito corajoso, em português) e encarou as condições adversas – ah, ainda tinha o trânsito, que ficou um horror nos arredores e fez muita gente perder as primeiras músicas – com a maior disposição. Com os pés (ou o corpo todo, no caso de quem não estava vestido com capas) molhados e enlameados, o público dançou e cantou as músicas da banda com uma devoção impressionante. Um fervor quase religioso, típico de shows do U2, com quem a banda é comparada.
E, assim como Bono Vox, Flowers se sente à vontade na missão de entreter e colocar uma grande plateia na palma da mão. Carismático, o vocalista subia nas caixas de retorno, tocava teclado – em For Reasons Unknown, assumiu o baixo – e fazia caras e bocas, enquanto cantava muito bem, sem desafinar nenhum nota. O restante da banda, completado em alguns momentos com músicos contratados, tinha uma postura menos performática, com destaque para o ótimo guitarrista Dave Keuning.
Quanto ao repertório do show, não teve erro: o quarteto, que conta também com o baixista Mark Stoermer e o baterista Ronnie Vannucci, tocou todos os sucessos e com arranjos bem fiéis à versão e estúdio – exceto Smile Like You Mean It, que ganhou um arranjo mais delicado. De Human, que abriu o show, a Mr. Brightside, não faltou nada. Ainda teve espaço para uma palinha de (I Can’t Help) Falling In Love With You, do rei Elvis Presley, entoada antes de Read My Mind.
A primeira parte do show, que durou cerca de 1h15, foi finalizada com All These Things I’ve Done. No bis, Brandon Flowers e companhia tocaram Jenny Was a Friend of Mine e When We Were Young, que foi executada de forma apoteótica, com direito a chuva de papel picado e fogos de artifício disparados do palco. Um fim arrepiante para um show que, apesar dos problemas causados pela localização e pelo clima, foi um dos melhores de um 2009 carregado de atrações internacionais no Brasil.