O último dia de junho marcou o fim de uma era na Bolsa de Mercadorias & Futuros de São Paulo (BM&F). Foi a última vez que aconteceu um pregão em viva-voz na bolsa. É o mercado que você estava acostumado a ver nos noticiários, no qual centenas de operadores falavam ao telefone fechando negócios aos berros. Era assim que parte das operações era fechada nos últimos 119 anos.
Compro 20 quilos disso, pago R$ 100 por cada! ou To vendendo 25 quilos daquilo, a R$ 50 cada eram frases comuns se der ouvidas durante o pregão. Por quilos, se entende mil lotes de uma determinada ação. Agora, tudo isso dará lugar ao silêncio dos negócios realizados em mesas de operações.
Agora, sem os operadores em viva-voz, os negócios na BM&F passam a ser realizados integralmente por um sistema eletrônico, o Global Trading System (GTS). As corretoras acessam as informações diretamente de seus escritórios, sem a necessidade de que a negociação seja feita pelos operadores em pregão. Estima-se que enquanto no sistema antigo um operador fechava um negócio por minuto, pelo novo método pode chegar a dois mil no mesmo período.
De acordo com a BM&F, no auge do mercado viva-voz, estavam cadastrados 1,2 mil operadores aptos a participar de uma cena que marcou a história das bolsas de valores em todo o mundo. O que sempre pareceu uma grande bagunça, uma espécie de feira, tinha a sua lógica e organização.
O sistema GTS entrou em operação em 2000. Desde então a cena de centenas de operadores gritando ao telefone estava cada vez menos intensa. Isso acontecia porque as corretoras passaram a optar pelo método eletrônico. No último dia do viva-voz, a BM&F contou com 300 operadores.
O que era tradicional perdeu espaço para a tecnologia. O fim da antiga forma de negociação já havia sido determinado em dezembro de 2006. Na época, o GTS respondia por 58% dos negócios da BM&F. No ano seguinte esse percentual subiu para 73% e atingiu 93% no fim de 2008. Já em abril deste ano, 97% dos negócios já eram realizados diretamente das operadoras. A morte do viva-voz era uma questão de tempo.
Agora, a maior parte dos últimos operadores de pregão perderam seus empregos. Isso porque, devido aos altos salários, não devem ser aproveitados para fazer o mesmo serviço pelo computador. O salário de quem negociava em viva-voz podia chegar até R$ 15 mil. Na sede das corretoras, um trainee faz o mesmo serviço por menos de R$ 2 mil.