Anos de Parada Gay em São Paulo consolidaram uma verdade: a comunidade gay é uma força econômica de respeito. Pergunte ao pessoal da Associação dos Bares e Restaurantes de São Paulo, aos donos de hotéis e baladas ou aos motoristas de táxi: entra muito dinheiro na cidade na época do evento. A Parada já é o segundo evento que mais divisas traz à cidade de São Paulo (o primeiro é a Fórmula Um). Esse feito é destacado inclusive nos releases que a Prefeitura de São Paulo solta sobre o evento.
Não há como negar. O fator econômico contribuiu muito para a aceitação da comunidade gay no contexto geral da cidade. Com isso em mente, acaba de ser fundada a Câmara de Comércio LGBT. A associação reúne diversos tipos de negócios, como hotéis, saunas, bares, lojas, bistrôs, revistas/sites como Junior e G Magazine e baladas como A Lôca, Blue Space e Cantho. A maioria são negócios tocados por gays, mas simpatizantes também integram a entidade.
A iniciativa partiu do empresário Douglas Dumond, jornalista, apresentador de TV e presidente da ONG Casarão Brasil, que observou o estágio avançado de mobilização das comunidades gays no exterior e viu que aqui ainda havia muito trabalho a fazer.
“Queremos tirar o mercado gay do armário. Têm produtos e propaganda para tantos sub-grupos, por que não direcionados para gays? Queremos batalhar por plano de saúde, organizar boicotes a produtos que tenham atitudes homofóbicas”, propõe Dumond, fazendo referência ao político americano Harvey Milk, que promovia iniciativas semelhantes em San Francisco nos anos 70.
Será que a comunidade gay de São Paulo já tem cacife para eleger um político?
“Uma das primeiras campanhas que queremos fazer”, conta Dumont ao Virgula, “é a da transferência de título eleitoral. De 60% a 70% dos gays de São Paulo têm título de fora de São Paulo. Aí o povo parece que sofre de adolescência prolongada e não transfere para cá, não dá importância para isso. Se todo mundo votasse aqui poderíamos eleger vereador, deputado estadual e até federal que estivesse identificado com nossas causas”.
Muita gente, dentro e fora da comunidade gay, critica iniciativas deste tipo por achar que elas mantêm as pessoas dentro de guetos e divisões. Outra campanha do Casarão Brasil, a de transformar a rua Frei Caneca em uma rua gay oficial, foi alvo desse tipo de questionamento.
“Isso não é gueto, é organização de foco, um conceito de marketing estabelecido”, rebate o empresário. “Quanto à ideia da rua, várias cidades do mundo têm ruas assim. É uma maneira de obrigar a sociedade a conviver com os gays, a céu aberto, num contexto de rua, obviamente com segurança e policiamento. Por que os gays têm que ficar sempre fechados e lacrados em lugares?”