Com a intenção de permanecer mais quatro anos no poder, o socialista pouco ortodoxo José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa promete ao povo dar continuidade ao tripé que tornou Portugal um país aberto, moderno e integrado à União Europeia (UE).

Aos 52 anos, o político reconhecido pelos opositores pela sua notável capacidade de conciliar os interesses e atrair os votos do marxismo à direita empresarial, têm dois desafios nas eleições de domingo: vencer a oposição inflamada dos demais partidos e fazer votos sem o apoio histórico da maioria que o elegeu em 2005.

Diferente do Sócrates de imagem jovial que chegou ao poder há quatro anos em uma das grandes vitórias do Partido Socialista (PS) nas três décadas de democracia portuguesa, o primeiro-ministro chega às urnas desgastado pelos efeitos da crise financeira mundial.

Durante seu mandato, Sócrates encarnou uma imagem de uma segunda geração socialista em Portugal, mais pragmática e menos ideológica que a do histórico Mário Soares, que praticamente se perpetuou na política portuguesa como primeiro-ministro ou chefe do Estado desde a revolução de 1974.

Um das últimas vitórias atribuídas à maleabilidade de Sócrates, definido pela esquerda como um socialista neoliberal, é o fato de ter conseguido o apoio ativo do próprio Soares e do líder da ala esquerda do PS, o ex-candidato presidencial rebelde Manuel Alegre.

Sócrates, que ganhou projeção política como deputado, em 1987, e depois como secretário de Estado e ministro do Meio Ambiente, entre 1997 e 2002, é o herdeiro político de Manuel Guterres. Enquanto este era primeiro-ministro, Sócrates galgava posições no partido, apesar da oposição de outras alas do PS.

Em 2005, ao assumir o poder, foi mais difícil para ele conviver com o socialista Jorge Sampaio como chefe de Estado do que com o conservador Aníbal Cavaco Silva, no cargo desde 2006.

A empatia com Cavaco, outro nome histórico da democracia portuguesa que já acumula 13 anos no poder, despertou a ira dos oposicionistas, que, obviamente, reprovavam a sintonia com o homem que foi líder da oposição Social Democrata.

Com a evidente satisfação do presidente da República e para o desencanto de alguns correligionários, o primeiro-ministro se empenhou em reduzir o déficit fiscal, em combater a burocracia portuguesa e em atrair empresas e negócios para Portugal.

Em uma espécie de “terceira via” à portuguesa, Sócrates também conseguiu adequar o país às exigências da zona do euro, embora tenha enfrentado uma ferrenha oposição dos sindicatos e da esquerda, que articularam as maiores manifestações desde a ditadura salazarista.

Na área social, desta vez com o apoio da ampla maioria, Sócrates promoveu reformas históricas ao legalizar o aborto e o divórcio. Porém, não quis apoiar o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Além do desgaste político dos quatro anos de Governo sempre com forte oposição parlamentar, as consequências da crise econômica mundial ofuscaram os sucessos obtidos por Sócrates na área econômica.

Após a pior recessão desde a Revolução de 1974, Portugal voltou a ter crescimento positivo no segundo trimestre deste ano e o governante pode se considerar na vanguarda europeia da recuperação.

Na vida pessoal, o primeiro-ministro, que é divorciado e pai de dois filhos, chega arranhado às urnas pelo suposto envolvimento em um escândalo imobiliário e em irregularidades para obter o título de engenheiro.


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Sócrates tenta a reeleição após modernizar e integrar Portugal