Passados seis dias do tornado devastador que atingiu municípios da região oeste de Santa Catarina, as vítimas tentam retornar ao ritmo de vida normal, limpando e consertando as casas ou refazendo a rotina nos abrigos. A ajuda prometida de cestas básicas e liberação de verbas, no entanto, ainda não se efetivaram, agravando ainda mais a vida de quem perdeu tudo.
Em Abelardo Luz, próximo à divisa com o Paraná, mais de 3 mil pessoas foram atingidas pela ventania da noite de segunda-feira (7), sendo que pelo menos 52 moradores tiveram as casas completamente destruídas.
No ginásio de esportes municipal, quatro famílias permanecem alojadas. Elas trouxeram tudo o que restou depois da chuva, incluindo uns poucos móveis, eletrodomésticos, utensílios de cozinha e algumas roupas.
O auxiliar de serviços gerais Jair de Freitas teve que abandonar às pressas o porão onde morava com a esposa e três filhos. A água inundou tudo e a casa ameaça desabar. Agora, estamos sem nada, contou o ex-agricultor, que trocou o campo pela cidade para trabalhar de pedreiro, mas teve que parar por causa de uma cirurgia no joelho. Sem ter o que fazer, ele conta que não sabe como vai manter a família daqui para frente.
Drama semelhante vive Janete Padilha, que também foi levada para o abrigo depois que sua casa foi arrasada. Só conseguimos salvar o fogão e dois sofás. O resto se perdeu, disse ela, que tem quatro filhos, sendo o mais novo um bebê de dois meses.
A renda da família não chega a um salário mínimo, dinheiro que vem do trabalho do marido, que é pedreiro. Apesar da pobreza, ela não conta com ajuda de programas sociais do governo. O benefício do Bolsa Família que recebia foi bloqueado há sete meses, sem que ela sequer saiba o motivo. Agora, esse dinheiro está fazendo muita falta, lamenta.
O mesmo problema sofre o casal Valmir e Marizete de Souza, que vivem no bairro mais pobre do município, com quatro filhos. O vento arrancou o telhado do barraco de compensado, que foi coberto por uma lona. Ajudante de pedreiro, o ganho mensal não chega a um salário mínimo, pois recebe por dia e quando chove não há trabalho.
Teve mês em que só ganhei R$ 50, conta ele, ao lado da esposa, grávida do quinto filho. Mesmo vivendo na miséria, também não recebem o Bolsa Família, nem cestas básicas prometidas para os desabrigados. O pouco alimento que tinham se estragou no temporal e o almoço da família de ontem (12) era só arroz.
Os casos são acompanhados de perto pelo secretário de Infraestrutura, Valdecir Teston, que se preocupa com a demora na liberação de verbas para o município, que teve o sistema de transporte e a economia prejudicados pela chuva, que arrasou estradas e pontes e colocou abaixo galpões e aviários.
A situação é horrível. Foi uma catástrofe para Abelardo Luz, que é essencialmente agrícola e tem 48% da população vivendo no meio rural. Isso dificulta a assistência aos desabrigados, mas essas pessoas não podem esperar. Nós precisamos de ações imediatas dos governos para que elas tenham um mínimo de condição de sobrevivência, afirmou.