“O 11 de setembro brasileiro!”: foi assim que o diretor de cinema Sérgio Rezende (de Lamarca, Canudos e Zuzu Angel, entre outros) definiu o Dia das Mães de 2006, quando grupos comandados pelo PCC organizaram uma ação em SP que mobilizou todo o país.

Na ocasião, diversos presídios do Estado tiveram rebeliões com reféns e mortos; as ruas foram tomadas por uma onda de crimes e vandalismo; policiais foram baleados, ônibus queimados, prédios públicos assaltados.
Em meio a tudo isso, a população da maior cidade da América Latina se via em desespero, assim como todo o país, que acompanhava os fatos pelos meios de comunicação.

Pois foi essa história, digna de filme de ação – principalmente para o cinema nacional, que já possui uma marca registrada e bem sucedida em retratar a violência urbana, como ocorreu com Cidade de Deus, Carandiru e Tropa de Elite – que inspirou a trama de Salve Geral, escolhido para representar o Brasil na disputa por uma vaga no Oscar 2010.

Fragilidade e força

Apesar da citação aos filmes que caíram no gosto de púbico e crítica, essa nova produção tem uma diferença fundamental: o poder feminino. São duas presenças fortes e evidentes durante as quase duas horas de ação: Márcia (Andrea Beltrão) e Ruiva (Denise Weinberg), figuras completamente opostas que por circunstâncias da vida se encontram e seguem em um caminho sem volta para as duas.

Márcia é uma professora de piano, viúva e mãe de um único filho. O rapaz, Rafa (Lee Thalor), faz uma grande besteira com graves conseqüências e vai para a cadeia. A mãe, para ajudar o filho, envolve-se, através de Ruiva, com o “Partido”, organização formada por presos e ex-detentos. Esse é o resumo da história.

Mas o trailer veiculado nos cinemas e internet subestima, e muito, a qualidade da trama: faz parecer uma tentativa forçada de criar um dramalhão usando o cenário violento como pano de fundo. Existem, sim, momentos forçados, tanto nos diálogos quanto nas entonações e ações, mas Salve Geral mostra ser mais do que isso.

Banho de água fria

Apesar dos fatos marcantes que serviram de inspiração para o roteiro, o que realmente importa no filme é o choque de realidade sofrido por uma personagem alheia a essas questões. Tão alheia quanto boa parte do público que vai ao cinema.

E essa foi a principal intenção de Rezende: “Salve Geral não é um filme de ação, mas de ação dramática. Acontece muita coisa, inclusive perseguição, bangue-bangue, mas a gente tentou pegar o espectador pela trajetória dessa mulher que se vê diante de uma situação terrível e decide fazer qualquer coisa para tirar o filho de lá” – explica.

O elenco é composto em sua maioria por atores do teatro paulista. Fora Andrea Beltrão, outros rostos são conhecidos, e até causam aquela sensação de que “já vi esse cara em algum lugar”, mas, popularmente falando, ninguém como a estrela global. E isso foi intencional. O diretor afirmou não optar por um elenco já estigmatizado, com evidências de quem seria o mocinho ou o malvado, para manter um tom de mistério do que aconteceria na trama.

Esse é o aspecto fundamental e que traz qualidade ao filme: ninguém é totalmente bom ou mau. Por mais clichê que isso possa soar, todos são humanos, podem atrair simpatia ou raiva de quem assiste, mas, acima de tudo, a identificação daqueles que se colocam e pensam: “no lugar dele (ou dela), o que eu faria?”.


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Salve Geral retrata violência sem grandes julgamentos