Em pelo menos um centro de ensino de Brasília, a aplicação da prova do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) não transcorreu com tranquilidade. Um estudante da Universidade de Brasília (UnB) saiu com o caderno de provas de dentro da escola apenas 15 minutos depois do início do exame.
Apesar de as regras do Enade determinarem que os fiscais só deveriam permitir a saída dos caderno após as 16h, alunos que aguardavam do lado de fora da escola contam que ele não teve dificuldades para sair com o documento.
Ele simplesmente saiu com a prova na mão, entregou para a gente aqui fora e foi embora, explicou o estudante de comunicação social, e integrante do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UnB, Jerônimo Calório Pinto.
Os responsáveis pela organização da prova no Centro de Ensino Fundamental 07 de Brasília, que não quiseram gravar entrevista, não sabem explicar o que houve e não reconhecem que a prova tenha saído daquele colégio. Segundo eles, cada uma das 16 salas contam com dois fiscais e um aplicador que foram treinados para evitar esse tipo de problema.
Ao ter acesso à prova do lado de fora, os estudantes ligados ao DCE que optaram por não fazer o exame decidiram boicotar quem estava dentro do colégio. Com um megafone, eles liam as questões e solicitavam aos alunos que não respondessem às perguntas da prova.
Eu até vim disposto a fazer a prova direito, mas quando cheguei vi que as questões eram ridículas, a parte geral era totalmente política. A abordagem deles das novas mídias, no caso da prova de jornalismo, é rasa e deturpada, contou o estudante Marcos Vinícios Lacerda, que preferiu sair mais cedo da prova.
Neste ano, a União Nacional dos Estudantes (UNE) não orientou os alunos a boicotar o Enade, como fez nos últimos dois anos. De acordo com o presidente da UNE, Augusto Chagas, algumas reivindicações da organização foram atendidas pelo governo, que alterior o sistema de avaliação das instituições.
A nossa crítica tinha a ver com a implementação do conjunto do Sinaes [Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Superior]. O projeto era muito mais complexo e, na nossa opinião, o Ministério da Educação vinha divulgando dados com timidez, que mais confundia do que dava resultados. Eles fazia ranking das instituições baseado na nota dos estudantes, explicou Chagas.
Segundo ele, a partir deste ano foram implementadas mudanças como o questionário com os estudantes a respeito da faculdade que cursa e outros elementos para avaliar a própria universidade. Então, resolvemos dar um voto de confiança, não fazendo o boicote, completou o presidente da UNE.
Mas os argumentos não convenceram os integrantes do DCE da UnB, que alegam não terem sido informados sobre o fim do boicote e continuam considerando que a prova é uma forma de avaliação apenas do desempenho dos estudantes. Segundo Jerônimo Pinto, o boicote também foi uma forma de mostrar a desorganização e o desleixo na aplicação do Enade.