O fanático por futebol adora ler notícias e histórias relacionadas ao seu clube de coração, principalmente quando os personagens são jogadores, técnicos, dirigentes ou torcedores. Em poucas oportunidades outras peças ligadas ao esporte mais amado do mundo ganham a chance de contarem seus causos. Pensando nisso, buscamos em pessoas fundamentais da modalidade uma nova forma de falar sobre o dia a dia dos boleiros: os roupeiros e outros profissionais dos bastidores do futebol. A cada final de semana, o VirgulaEsporte vai conversar com um destes personagens de um grande clube brasileiro.

O escolhido da vez é o Araponga, roupeiro e funcionário do Clube Náutico Capibaribe há mais de 40 anos. Severino Matias de Carvalho tem 69 anos. Ao longo das quatro décadas que trabalha no Timbu, Araponga já viu muita coisa, mas nenhuma tão emocionante quanto um jogo em especial do ano de 1974. “Naquela partida evitamos o hexacampeonato do Santa Cruz, foi realmente marcante”, comemora o roupeiro, lembrando da vitória sobre o rival pernambucano. Tristezas ele também tem. Uma delas foi na batalha dos Aflitos, como ficou conhecido o jogo contra o Grêmio, pela Série B, em 2005. “A sensação era de ter perdido uns 10 anos de trabalho”, recorda.

Não foi somente nesta partida que Araponga deve ter sofrido, afinal, segundo o roupeiro, ficar fora de campo é muito pior do que jogar. “É angustiante não poder entrar no gramado e ajudar os jogadores de alguma forma”, desabafa o torcedor Araponga que, cuidadoso que é, deixou a dica de como exercer bem a sua função. “Tomo sempre muito cuidado na hora de lavar os uniformes, porque quando eles têm manchas, aí é que eu escuto reclamações”, divertiu-se.

A relação com os jogadores

Nestes anos todos de Náutico, Araponga teve contato com centenas de jogadores que passaram pelo alvirrubro e um deles, em especial, exigia cuidados com a sua roupa. “Era o Mazzaropi, goleiro do Vasco que veio por empréstimo para o Náutico em 1984. Ele gostava de vestir sempre o mesmo uniforme, sempre dobrado da mesma forma e colocado no mesmo local”, lembra

Porém, o jogador de quem Araponga tem melhores lembranças é o atacante Kuki, que ainda está no Timbu e que “sempre o tratou muito bem independente do resultado”.

Em relação a superstições com numeração de camisas, Araponga não conta grande novidade. No Corinthians, o uruguaio Acosta só encontrou um bom futebol quando vestiu a camisa 25 e, por lá, parece que a situação não era muito diferente. “Ah, teve também um zagueiro chamado Cláudio Luiz, que só gostava de atuar com o número 5”, completa.

Lembrança engraçada

Trabalhando no Náutico há tanto tempo (“Treze horas por dia, sou o primeiro a chegar e o último a sair”), Araponga coleciona histórias engraçadas, e citou uma passagem com o ponta direita Dedeu – que defendeu o Timbu na década de 70 –, como a situação em que deu mais risadas. Antes de uma partida, o jogador deu a seguinte declaração: “Comigo ou ‘sem migo’, o Náutico será o mesmo em campo”.

Este é Araponga. O apelido foi dado por Gena (jogador da década de 60) que disse que o roupeiro era parecido com um atleta do Santa Cruz de mesmo nome. “Estou no Náutico há 41 anos e é sempre assim: ninguém procura saber meu nome”, conclui Araponga.


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Roupeiro do Náutico conta trajetória de 40 anos e desabafa sobre batalha dos Aflitos

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