Rodrigo Santos, baixista do Barão Vermelho, aproveitou a paralisação das atividades da banda, em 2008, para se dedicar à carreira-solo. Entretanto, Santos já planejava sua incursão individual no mundo da música muito antes seu primeiro CD fora do Barão Vermelho, Um Pouco Mais de Calma, foi lançado em junho de 2007.
Agora, Rodrigo Santos lança seu segundo álbum solo, O Diário do Homem Invisível (Som Livre), que se distancia ainda mais da sonoridade do Barão Vermelho e aposta em uma sonoridade tão diversa quanto os convidados especiais do disco, que vão de Ney Matogrosso e Cidade Negra a Hélio Flanders, do Vanguart.
Em entrevista, Santos fala sobre a concepção do álbum, sobre a orientação de sua carreira-solo e afirma que a web foi a responsável pela descoberta de seu público-alvo. Foi na internet que descobri que, apesar de eu não ser tão famoso, tinha muita gente querendo a minha música, afirmou.
Virgula: Como foi o processo de composição de O Diário do Homem Invisível, seu segundo CD-solo?
Rodrigo Santos: Mesmo sendo baixista de uma banda conceituada como o Barão Vermelho e já tendo um CD próprio, fiquei pensando como é difícil conseguir qualquer coisa no Brasil se você não for muito, mas muito conhecido. Isso já aconteceu comigo diversas vezes. Encontro barreiras para tudo. A mídia restringe muito e você consegue as coisas porque tem nome, e não porque tem talento. Isso me trouxe a ideia de homens invisíveis, de caras muito bons, mas que não têm espaço.
Virgula: Então o álbum é um trabalho autobiográfico?
Rodrigo Santos: Sim. Autobiográfico e conceitual, porque sempre gostei de um álbum que tenha uma história para contar, uma unidade. Ele fala sobre as minhas dificuldades, minha guerra contra o álcool, é algo bem conceitual. Para mim, essa ideia é muito importante, pois tudo tem que fazer sentido. A faixa O Diário do Homem Invisível, por exemplo, eu tinha composto para entrar no primeiro disco, mas ela não encaixava, não cabia lá. Então, quando eu decidi a orientação do novo álbum, percebi que ficaria perfeita no conjunto.
Virgula: Quais as principais diferenças que você identifica no seu som em relação ao seu primeiro álbum? Mudou muita coisa?
Rodrigo Santos: Meu primeiro álbum era algo mais folk, mais violão e violino, e as composições eram interligadas pelo violão e por minha voz. Esse segundo CD é mais porrada, quase inteiro feito com bateria eletrônica. Mas minha intenção mesmo é sempre fazer álbuns diferentes, que se destaquem.
Virgula: E em relação a seu trabalho como baixista do Barão Vermelho? O que mudou?
Rodrigo Santos: No Barão, eu era baixista e só. Não tinha jeito, ali não era o lugar de cantar, de compor, mesmo porque quando eu entrei o grupo já tinha mais de dez anos de carreira. Não digo que minha carreira solo não tenha sido influenciada pelo trabalho que fazia no grupo, mas agora consiga explorar outros lados de mim como músico, artista.
Virgula: E como você decidiu as parcerias que estão nesse novo álbum, que tem participações do Ney Matogrosso, Autoramas, Cidade Negra, Hélio Flanders, do Vanguart, Filhos da Judith e Canastra? São artistas que têm estilos muito diferentes uns dos outros.
Rodrigo Santos: Esse é o espírito do CD. No meu primeiro álbum, eu fiz algo baseado no violão e no violino, com uma cara folk e influências de gente como Bob Dylan e Cat Stevens. Neste álbum, eu quis mostrar a minha pluralidade, de alguém que ouve chorinho, Beatles, Raul Seixas, Rita Lee, Titãs, David Bowie, Talking Heads, Police, tudo. E é esse o espírito do novo álbum: juntar um pouco de tudo, mostrar diversas influências. Acho que as parcerias refletem a diversidade do álbum, porque todas são de bandas e artistas que não param de mudar, que tem essa característica mutante, como o Ney Matogrosso.
Virgula: Você também assina a produção do álbum, juntamente com Humberto Barros. Como foi esse trabalho?
Rodrigo Santos: Na verdade, tudo teve uma cara meio artesanal. Eu registrei grande parte das composições no quarto da casa do Humberto e ficou sensacional. No estúdio da (gravadora) Som Livre, eu gravei mais a bateria e as participações dos demais artistas. Mas o que gravamos na casa dele ficou melhor do que as passagens que tínhamos feito no estúdio!
Virgula: Você tem Twitter, mexe bastante no Orkut e divulga seu trabalho na Web. Você acha importante os artistas utilizarem a internet?
Rodrigo Santos: Eu descobri que tinha público e meu trabalho tinha espaço fuçando em comunidades do Orkut. Foi ali que vi como a gente pode divulgar nosso trabalho mesmo não sendo um daqueles caras que está sempre em evidência na mídia. Através desse público e dessa divulgação, consegui fazer cerca de 400 shows em dois anos. A Web é essencial para que o artistas encontrem seu público.
Virgula: E a arte do álbum, como foi criada?
Rodrigo Santos: Minha ideia era fazer o álbum inteirinho com desenhos meus, além de colocar junto um encarte mais recheado e um diário mesmo junto com cada CD. Mas os custos não deixaram. Um amigo meu viu o desenho que eu tinha feito para a capa, que traz exatamente a imagem que você vê no encarte final. Daí ele falou que ficaria melhor se eu fizesse uma foto. Então coloquei os artistas que trabalham comigo no álbum na posição que eu tinha desenhado e fiz a foto. Então essa ideia de pluralidade, de álbum coletivo ficou também na cara do CD.