Após inúmeros trabalhos que engordaram sua conta corrente, mas não conseguiram agradar a crítica, Robert De Niro volta com a comédia dramática Everybody’s Fine (Estamos todos bem), sobre os esforços de um viúvo para se reaproximar dos filhos.
“De Niro está esplêndido no papel e oferece uma aula de interpretação sutil, o que faz sem esforço”, disse Pete Hammond, crítico do jornal Los Angeles Times. “Fazia muito tempo que o ator não emocionava assim na tela”, acrescentou sobre o ator de Meet the Parents (Entrando numa fria, 2000) e Meet the Fockers (Entrando numa fria maior ainda, 2004)”.
“É possivelmente a primeira vez que evoca uma bondade sincera e sem ironia. Não há rastro da fúria e da ansiedade de seus melhores papéis, nem dos exageros do teatro. No lugar, há uma intensidade silenciosa e contemplativa que sugere toda uma tranquilidade”, apontou Andrew Barker, da revista Variety.
O filme, que chega hoje aos Estados Unidos e é dirigido pelo britânico Kirk Jones, que também dirigiu (Waking Ned, A Fortuna de Ned), é uma nova versão do filme Stanno tutti bene (1990), de Giuseppe Tornatore, protagonizado por Marcello Mastroianni.
“Só vi o filme original três vezes”, disse o cineasta. “Não queria simplesmente traduzí-lo, ou fazer a mesma versão em um idioma diferente. Tornatore não esperaria isso de mim. Era preciso fazê-lo ao meu modo”, acrescentou.
Para isso, o diretor utilizou a coluna vertebral do filme italiano e o adaptou aos tempos atuais com uma história que soa muito familiar: pais e filhos separados por milhares de quilômetros que, diante da correria e do estresse diário, não encontram tempo para ficarem juntos.
Se no filme de Tornatore, Mastroianni percorria Nápoles, Roma, Florença, Milão e Turim para retomar a relação com seus cinco filhos, De Niro (que dá vida a Frank Goode) viaja por Nova York, Chicago, Denver e Las Vegas, para fazer o mesmo.
Goode, um homem devotado ao trabalho para que não faltasse nada a sua família, se dá conta que tanta dedicação o impediu de ter uma relação afetuosa com seus filhos e que isso agora custa caro.
Aí entram em jogo os personagens de Drew Barrymore (uma bailarina), Kate Beckinsale (uma importante publicitária), Sam Rockwell (regente de uma orquestra) e Austin Lysy (um pintor reconhecido). Três deles tentarão esconder de seu pai uma grave tragédia familiar.
“Me identifico perfeitamente com essa história”, afirmou De Niro. “Por isso, posso entender o que está ocorrendo com Frank e seus filhos, isso foi o que mais me interessou”, comentou o ator, cuja tranqüila interpretação lembra seus papéis em Mad Dog and Glory (1993) e Falling in Love (1984), marcados pelos hábitos cotidianos.
“Quando vejo De Niro caminhando pelo supermercado com sua bolsa de compras e fazendo fotografias, guardando a câmera com cuidado, tenho a sensação de estar vendo meu próprio pai”, explicou um dos produtores do longa-metragem, Glynis Murray.
O personagem de De Niro, ao longo do filme, conhecerá os mistérios das vidas de seus filhos, que escondem faces que ele desconhecia totalmente, como a de sua filha mais nova, Rosie.
“Meu personagem cria toda uma ilusão para seu pai porque sabe do orgulho dele por sua a pequena ter alcançado todos os seus sonhos”, explicou Barrymore. “Na realidade ela está sofrendo, mas não deseja dizer a verdade”, comentou.
O mesmo ocorre com os problemas matrimoniais de Amy, interpretada por Beckinsale. “Pode ser que não tenhamos tido as mesmas experiências que os personagens, mas os segredos entre as famílias, proteção aos pais e as relações entre irmãos são coisas universais em todo o mundo”, manifestou a intérprete britânica.
E também no caso de Robert (Rockwell), cuja carreira musical não é tão brilhante como parece. “Nos dias de hoje parece que quase todo mundo não tem uma relação tão próxima com os pais. É algo comum, mas esse filme quer resgatar esse sentimento e corrigir certas coisas”, concluiu.
A mensagem positiva do filme, inclusive, inspirou Paul McCartney, que compôs uma canção para os créditos finais: (I Want To) Come Home.
“Tenho três filhos e quando eram mais jovens passávamos sempre férias juntos, mas quando crescem, têm seus companheiros, seus filhos… e querem passar mais tempo a sós. Como pai, é preciso aprender a lidar com isso, portanto me identifiquei muito com o personagem de De Niro”, manifestou o ex-Beatle.