Reunidos em Genebra, onde ficarão por uma semana, representantes de 150 países começaram nesta segunda-feira a debater uma postura científica comum sobre como prever melhor os efeitos da mudança climática e como colocar à disposição de todos informação confiável a respeito deste fenômeno.

De modo geral, todos os oradores da sessão inaugural da Conferência Mundial sobre o Clima concordaram que o mundo, particularmente os países em desenvolvimento, precisa de dados exatos para evitar os potenciais danos da mudança climática.

A enviada especial da ONU para a Mudança Climática, Gro Harlem Brundtland, destacou que muitas situações de crise de fome, epidemias e deslocamentos forçados, quase exclusivas dos países pobres, estão vinculadas aos desastres naturais, que, por causa do aquecimento do planeta, se tornaram mais frequentes e mais fortes.

A conferência iniciada hoje é a terceira do gênero organizada pela Organização Meteorológica Mundial (OMM). Na primeira, realizada em 1979, foi lançado um programa de pesquisa que contribuiu para a criação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).

A segunda série de reuniões, em 1990, teve como principal resultado a implementação de um sistema mundial de observação. Haja vista esses ambiciosos antecedentes, a expectativa é que a conferência deste ano termine com um acordo para a criação de uma rede mundial de informações climáticas, cujo objetivo prático seria amenizar as consequências do aquecimento do planeta.

A ideia é fazer isso distribuindo as informações obtidas não só a entidades científicas e governamentais, mas também “a cada setor parceiro, a instâncias locais e, em nível individual, a agricultores”, exemplificou o secretário-geral da OMM, Michel Jarraud.

À imprensa, o especialista revelou que essa nova rede climática incluirá bases de dados para previsões meteorológicas a curto prazo, mapas de zonas em que há riscos de catástrofes naturais e um sistema de alarme antecipado.

Jarraud disse ainda que os cientistas tentarão “convencer as autoridades políticas e econômicas da importância de se investir mais” em tecnologia para que as previsões sobre o clima possam melhorar. Segundo ele, é preciso demonstrar aos Governos que os recursos aplicados nessas atividades “não serão uma despesa, mas um bom investimento, tanto para os países desenvolvidos como para as nações em desenvolvimento”.

O secretário-geral da OMM também explicou que, se a conferência foi bem-sucedida, terá um efeito muito positivo sobre a troca de informações climáticas em nível global. Nesse sentido, Jarraud defendeu a necessidade de um sistema de observação global, já que, para a obtenção de bons dados num local, “são necessárias informações de muitos outros lugares”.

Como exemplo, disse que atual rede de troca de informações climáticas, além de não ser suficientemente boa em termos de “densidade e qualidade”, enfrenta deficiências particularmente graves na África. Essa situação, no entanto, não afeta apenas o continente africano, mas o resto do mundo: “Por exemplo, os ciclones tropicais que chegam aos Estados Unidos nascem na África e, se encontram energia suficiente no Caribe (procedente das altas temperaturas do mar), viram furacões”, destacou.

Nos debates desta segunda-feira, os participantes da conferência deram as boas-vindas à nova posição dos Estados Unidos em relação à mudança climática, evidenciada pela grande quantidade de representantes que o país enviou ao encontro.

Distanciando-se do discurso do Governo anterior, a chefe da delegação americana, Sherburne Abbott, afirmou à imprensa que “a mudança climática é real, está aí e seu impacto é sentido em todo o planeta”.

A funcionária, que é assessora do presidente Barack Obama para assuntos científicos, destacou que o problema “requer uma resposta global”, mas que esta não busque apenas um culpado. Abbott afirmou ainda que é preciso entender que, agora, “todas as nações são vulneráveis”.


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Reunião em Genebra busca melhorar previsão de mudanças no clima

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