Daniel Carmona, repórter do Virgula, mora em Campinas e utiliza o ônibus fretado diariamente para chegar na redação. A partir da segunda-feira (27), a Prefeitura de São Paulo proibiu o trânsito desses veículos no centro expandido da cidade. A iniciativa causou transtornos e protestos entre os usuários.
Em depoimento, ele nos contou alguns dos problemas vividos. Confira:
“Desorganização, falta de segurança, agentes de trânsito despreparados e bolsão improvisado. Estes foram alguns dos problemas que constatei no dia em que entraram em vigor as regras de restrição aos ônibus fretados no centro expandido de São Paulo.
Minha expedição começou às 17h40, ao sair da redação na Avenida Paulista em direção ao metrô. Deveria estar no bolsão da Avenida Dr. Arnaldo às 18h15, horário previsto para pegar o fretado. Previsto. Porém…
A confusão generalizada era evidente logo na saída da estação do metrô Sumaré, tradicionalmente uma das mais vazias da cidade, mas que ficou pequena para tanta gente. Pior para quem passa rotineiramente pelo local.
Ao subir as escadas que dão acesso à Dr. Arnaldo, centenas de pessoas se espremiam no parapeito do viaduto sobre a avenida Sumaré. O local é perigoso, o muro é baixo e qualquer vacilo pode ser fatal, já que o viaduto é muito alto. O curioso é que este local já foi utilizado por praticantes de bungee jump, a queda livre radical na qual o aventureiro fica amarrado apenas por uma corda elástica. A Prefeitura proibiu a prática desse esporte no viaduto, mas agora permite sua utilização como ‘bolsão’…
E a calçada ficou pequena para tanta gente, o que forçou a circulação de pessoas na rua ou até mesmo na guia elevada que serve de proteção para os pedestres.
‘Cuidado com o buraco’, alertava uma mulher ao verificar uma vala destampada na calçada que tinha cerca de 1 metro de diâmetro. ‘Se eu quebrar a perna vou processar o Kassab’, disparou outra. Para incrementar a situação, o escoamento da água da chuva não existe no local. E o jeito foi pisar na água e tentar driblar as poças maiores.
Diante desse cenário, os passageiros procuravam por informações sobre o local de parada dos ônibus que, por sua vez, estacionavam duas ou três vezes ao longo da área delimitada para o embarque dos passageiros. De acordo com a regulamentação, cada fretado pode parar apenas uma vez no bolsão. Algo que vai ser impossível com tanta gente e tamanha desorganização.
Ao conversar com alguns colegas de fretado, notei uma evidente preocupação com a segurança. Não havia nenhum policial ou guarda municipal por perto, o que poderia facilitar a ação de bandidos. Além disso, a iluminação é praticamente nula e aumenta o clima de insegurança.
Questionado por alguns passageiros, um fiscal da SPTrans mal sabia informar sobre o local de parada dos ônibus. A preocupação deste funcionário era anotar a empresa e o número dos ônibus que passavam, além da quantidade de passageiros que embarcavam. Certamente, em alguns dias, a prefeitura já terá um levantamento numérico do tamanho deste problema. Resta saber se alguma mudança será feita para reduzir as dificuldades, os improvisos e o atraso dos passageiros.
A sensação que ficou é que a iniciativa da Prefeitura não foi planejada e que isto pode vir a ser feito com o passar do tempo. De qualquer modo, os milhares de trabalhadores que dependem dos fretados por causa da ineficiência e do sucateamento do transporte público vão ter que bancar com tempo e com o bolso essa ‘solução’ adotada pelas autoridades.
Apesar do anunciado aumento do número de carros que nas ruas, a Prefeitura e os administradores dos trens, metrôs e companhias de ônibus públicos ao menos ganham uma importante parcela de ‘novos clientes’.
Bom, apenas para finalizar esta história, consegui pegar o ônibus às 18h40. Ele saiu da Dr. Arnaldo com destino à Barra Funda, onde pegaria outros passageiros que, certamente, passaram por problemas semelhantes.
Congestionamento, trânsito lento, estrada. Cheguei em casa às 21h com o seguinte questionamento: Será mesmo que, como disse o prefeito Gilberto Kassab, ‘é só uma questão de se reacostumar?’. Só se for pra pior.
Daniel Carmona, 28 de julho de 2009