Na semana passada, o Ministério da Educação (MEC) anunciou grandes mudanças no processo de seleção das universidades brasileiras. A principal delas é o fim do vestibular tradicional e a introdução de uma prova tipo Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) para avaliar os candidatos, mais baseada no racocínio do que na decoreba.
A nova prova traria a unificação do vestibular das universidades federais. O mesmo exame, portanto, serviria para tentar entrar em diferentes universidades. O ministro da Educação, Fernando Haddad se reuniu a portas fechadas com 52 reitores para definir os rumos do concurso no país. Até agora, 48 deles, já manifestaram interesse.
Um termo de referência com todos detalhes técnicos foi entregue no dia 8 de abril aos reitores que irão discutir nas universidades se vão ou não aderir ao novo Enem como forma de seleção em substituição ao vestibular. As instituições têm toda a liberdade para não aderir, aderir como unificado ou aderir parcialmente.
MUDANÇAS RADICAIS
Com o novo modelo os vestibulandos poderão escolher até cinco cursos diferentes e em cinco instituições. A prova será unificada e com uma nota só o aluno poderá tentar ingressar nas universidades que escolher.
O teste promete ser mais enxuto e deixara para o passado a decoreba. O que vai valer é a capacidade de raciocínio e soluções de problemas da vida real. Em tese, será o adeus ao conhecimento inútil acumulado.
ONDE SERÁ IMPLANTADO
O objetivo é que as 55 universidades federais do país façam a adesão.
A PROVA
O exame contará com 200 questões de múltipla escolha (ciências naturais e humanas, linguagens e matemática) e não mais com as 63 atuais, além da redação. Tudo será dividido em 2 dias de provas. A realização de uma segunda fase ficará a critério de cada universidade. Há quem afirme que será um Enem reformulado, tipo um meio termo entre os vestibulares tradicionais e o Enem antigo. O MEC ainda não definiu o que será excluído.
PRIMEIRO PASSO
ESCOLHA
O candidato elencará as suas cinco opções de curso e universidades após ter o resultado da prova em mãos. Isso será feito em um sistema online por intermédio do número do CPF. A partir dessa inscrição, o candidato poderá monitorar diariamente como está a concorrência para os cursos escolhidos. Ele poderá alterar, a qualquer momento, a opção que pretende disputar.
SEGUNDO PASSO
PRIORIDADE
A prioridade da vaga será para o candidato que tiver escolhido o curso como primeira opção. Ou seja, mesmo que tenha tirado nota menor, o candidato que escolheu como primeira opção estará na frente daquele que escolheu o mesmo curso como segunda opção.
TERCEIRO PASSO
VAGAS
A segunda opção e as alternativas de cada candidato valerão para as vagas não ocupadas dos estudantes que não se matricularam na primeira opção. O que vale é a sobra de vagas. Eventuais empates nas notas no Enem deverão ser resolvidos pelas próprias universidades, que definirão se aplicarão nova prova, utilizarão entrevistas ou ainda outros métodos para escolher o candidato.
QUANDO COMEÇA
Tudo dependerá da aceitação das universidades, mas o prazo-limite é até o final de abril. O Enem já foi marcado e as provas acontecem nos dias 4 e 5 de outubro. Algumas universidades federais e até particulares adotarão o novo método ainda neste ano.
QUEM TÁ DENTRO E QUEM TÁ FORA
Até agora, a USP e a Unicamp já anunciaram que não usarão o novo método, pelo menos neste ano. No entato, mais de 500 particulares já avisaram que vão aderir.
VALE A PENA?
Qualquer mudança vai prestigiar o aluno que sabe mais, isso é fato. O mérito não será substituído e os melhores continuaram sendo os selecionados. Posso apostar que você está cheio de dúvidas nesse turbilhão de informações. Mas acredite, você não é o único.
Há 3 anos tentando uma vaga no curso de medicina, a estudante Karina Betim diz que nada está esclarecido. Posso fazer uma prova de qualquer universidade do país sem sair da minha cidade, mas se tiver segunda fase eu acho que vou ter que me deslocar do mesmo jeito. O número de vagas continua o mesmo e antes como várias datam coincidiam diminuía bastante a concorrência, agora todo mundo vai poder prestar. Não vejo melhora, pelo contrário, desabafa.
Há quem acredite que o novo vestibular prejudicará os alunos que moram em regiões carentes. “Os estudantes de regiões mais ricas, obtêm notas maiores e com a mobilidade proporcionada pela prova única, os mais afortunados teriam condições de cursar instituições mais distantes. Ou seja, ocupam as vagas das regiões mais humildes e depois de formados voltam para a cidade natal.
Outra preocupação é com relação à segurança das provas, já que uma fraude constatada seria responsável pelo cancelamento de mais de milhões de provas.Por enquanto são propostas, é preciso reestruturar a educação, o problema é mais embaixo”, diz o coordenador do Anglo, Alberto Francisco do Nascimento.
Existe também a possibilidade dos melhores alunos procurarem somente as instituições de excelência do país e deixarem as menos prestigiadas de lado, com os piores alunos. Como resultado, um aumento expressivo na concorrência e queda da qualidade das menos favorecidas. Mas há a esperança que isso seja um incentivo para que melhorem o ensino.
Do lado positivo da balança, as instituições poderão poupar a energia gasta na elaboração das provas e preocupar-se com o que de fato importa: a qualidade da educação. Outro ingrediente fundamental é o fim da maratona sem fim que os estudantes enfrentam na época das provas.O professor de cursinho pré-vestibular Arthur Soares acredita que a mudança é bem-vinda. “Eu sou super a favor, vejo muita coisa boa vindo por aí, o vestibular no Brasil é ultrapassado, precisamos de mentes pensantes e não de enciclopédias ambulantes”.
E de quebra, pode refletir uma melhora no ensino médio, fazendo o decoreba, as milhões de fórmulas e os conteúdos massacrantes estarem com os dias contados. Afinal, a porta de entrada para a universidade estará de cara nova e com outras exigências.