Os cientistas do Laboratório Europeu de Física Nuclear (Cern) conseguiram nesta terça-feira acelerar feixes de prótons ao nível recorde de 7 TeV (teraeletrovolts) e, assim, reproduzir um mini Big Bang, como é conhecido o instante que marcou a criação do universo.

O experimento, só possível graças ao Grande Colisor de Hádrons (LHC) – o acelerador de 27 quilômetros de circunferência localizado 100 metros abaixo da fronteira entre a França e a Suíça -, marca o início do programa de pesquisas desta potente máquina.

Os choques de prótons alcançados a uma energia 3,5 vezes maior que a conseguida em outros aceleradores permitirão à comunidade científica mundial obter uma enorme quantidade de informações e respostas para os enigmas do Universo e da matéria, segundo especialistas.

Após duas tentativas frustradas nesta mesma terça-feira, nas quais os protóns injetados no acelerador não colidiram, os quatro detectores gigantes do colisor – Atlas, Alice, CMA e LHCb -, posicionados em diferentes pontos da gigante circunferência, começaram a registrar os choques.

O diretor-geral do Cern, Rolf Heuer, se disse contente e entusiasmado com o que chamou de de “princípio de uma nova era para a física moderna”, segundo declarações transmitidas diretamente do Japão. “Com esta experiência, abre-se uma janela para a obtenção de novos conhecimentos sobre o Universo e o microcosmos. Mas isto não será imediato”, destacou o cientista.

Na opinião de Heuer, as possibilidades oferecidas agora pelo acelerador são tais que, nos dois anos em que o colisor for mantido a 7 TeV, “será possível obter dados sobre a composição de aproximadamente um quarto do Universo”, ao passo que, atualmente, a física só conhece 4% do cosmos.

Após a bem-sucedida experiência, a alegria dos cientistas nas salas de controle dos quatro detectores era visível. “É impressionante o fato de o detector conseguir registrar as colisões e também mostrá-las em questão de segundos”, disse o espanhol Juan Alcaraz, pesquisador do Cimat (Centro de Pesquisa Interdisciplinar Avançada em Ciências dos Materiais) e um dos coordenadores do detector CMS.

“Sabíamos que era capaz de registrar as colisões, mas vê-las é magnífico. Agora, o que nos preocupa é que a máquina funcione corretamente. E isso veremos nos próximos dias”, acrescentou, explicando que agora começará a coleta de dados e informações fornecidas pelo mini Big Bang recriado.

“Agora começa a busca pela matéria escura, por novas forças, novas dimensões e pelo bosão de Higgs”, disse a porta-voz do detector Atlas, Fabiola Gianotti.

Essa partícula, que deve seu nome ao cientista que há 30 anos previu sua existência, é considerada indispensável para explicar por que as partículas elementares têm massa e por que as massas são tão diferentes entre si.

“Temos um grande programa de pesquisa pela frente para explorar a natureza da assimetria matéria-antimatéria mais profundamente”, afirmou, por sua vez, o porta-voz do detector LHCb, Andrei Golutvin.

O desafio agora é repetir essas colisões com cada vez mais feixes de partículas e mantar os detectores coletando e armazenando dados, os quais serão analisados por dois anos, até a interrupção do funcionamento do acelerador pelo período de um ano.

Só depois, quando o LHC for revisado, os cientistas tentarão elevar a acelaração dos feixes de partículas a 14 TeV, a potência máxima que o colisor pode alcançar e que é ainda mais próxima da da criação do Universo.

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Recriação do mini Big Bang abre nova era para a física moderna