O presidente cubano, Raúl Castro, lidera neste domingo na cidade cubana de Holguín a comemoração pelo 56º aniversário do início da Revolução Cubana, liderada por seu irmão e antecessor Fidel, pelo terceiro ano desde que assumiu a Presidência, e celebra a data com a ilha em situação econômica crítica.
O lema “Pátria ou morte” de Fidel deu lugar em 2009 ao “Economia ou morte” na imprensa oficial cubana, em meio às reduções na entrega de alimentos da cartilha de racionamento e no fornecimento de energia elétrica a entidades e empresas estatais que não diminuírem seu consumo para evitar blecautes generalizados.
Diplomatas veteranos ressaltam o contraste da facilidade do irmão mais velho em levantar a plateia com o “Pátria ou morte” e as dificuldades do mais novo em pregar austeridade, menos consumo, mais trabalho, resignação e disciplina social.
Lá se vão os dias em que eram aguardados anúncios de “reformas estruturais” de Raúl Castro em efemérides revolucionárias como a de amanhã em Holguín, a terceira que preside desde que Fidel adoeceu em 2006, após seu discurso na mesma data e na mesma cidade.
Muitos analistas dizem que, desde 2006, houve mudanças apenas em relação a figuras secundárias da engrenagem estatal, como a saída em março de vários vice-presidentes e ministros acusados até de traição, cuja reputação foi varrida por versões interessadas que muitos repetiram dentro e fora da ilha.
Neste cenário, a obra, o autor, o roteiro, o produtor, o diretor e os protagonistas continuam os mesmos.
A deterioração que arrasta a economia cubana há quase 20 anos, desde o fim do bloco soviético, que a subsidiava, piorou com a atual recessão mundial, que reduziu as entradas de divisas e encareceu as importações.
Cuba importa cerca de 80% dos alimentos que consomem seus 11,3 milhões de habitantes, mas manteve mais da metade de suas terras cultiváveis ociosas por décadas.
Além disso, há o embargo comercial e financeiro que os Estados Unidos aplicam à ilha há meio século e que o presidente americano, Barack Obama, não considera necessário eliminar agora.
Somado a isso tudo há as perdas de US$ 10 bilhões provocadas pela passagem de três furacões pela ilha em 2008.
A região de Holguín foi uma das mais afetadas pelo ciclone “Ike”, o pior dos três, que destruiu ou danificou 126 mil casas na área – foram 500 mil em todo o país. Os precários recursos estatais só puderam recuperar 56% dos imóveis um ano depois, segundo funcionários governamentais.
O crescimento da economia cubana, segundo números oficiais que os organismos internacionais veem com cautela por causa das peculiaridades da contabilidade estatal, caiu de 12,5% em 2007 para 4,3% em 2008.
A previsão do Governo para 2009 já foi rebaixada oficialmente de 6% para 2,5%, mas economistas independentes consideram esta última cifra otimista.
“O pior é que Cuba carece de um plano econômico para enfrentar sua pior crise desde o colapso da União Soviética”, assegura o economista cubano Carmelo Mesa-Lago, catedrático da Universidade de Pittsburgh (EUA).
“Cuba tem uma economia centralizada que não aproveita seu poder para planejar e estabelecer uma estratégia coerente que a tire do marasmo que sofre”, acrescenta Mesa-Lago.
Não é necessário ir muito fundo para observar o desânimo dos trabalhadores ou a ineficácia das instituições oficiais, problemas criticados inclusive pela imprensa estatal, causados em grande parte porque os cubanos recebem salários que não cobrem suas necessidades (o cubano médio ganha US$ 17 por mês).
A população cubana recebe alimentos subsidiados por meio da cartilha de racionamento, mas o Governo reconhece que ela só cobre metade de suas necessidades nutricionais.
O jornal “Granma”, porta-voz do Partido Comunista Cubano, criticou em maio a passividade, os trabalhadores e a burocracia das organizações estatais, ao advertir que a crise da ilha “é de tal natureza” que é preciso pensar em “Economia ou morte”.
O artigo exigia uma “maior compreensão e disposição” dos trabalhadores e dirigentes, “porque as complicações financeiras nos obrigam a realizar reajustes econômicos sob circunstâncias extraordinárias”.
Há um ano, no 55º aniversário do início da Revolução, Raúl Castro pediu a seus compatriotas que não se acostumassem a receber apenas boas notícias.
“Não acho que tenham tido neste ano muitas oportunidades de se acostumar”, comentou um diplomata.