Depois de vender cerca de 10 mil cópias de sua primeira mixtape, Pra Quem Já Mordeu um Cachorro por Comida, Até Que Eu Cheguei Longe, e ser indicado ao VMB em três categorias, o rapper Emicida foi além das ruas para ganhar projeção nacional.

A expectativa para seus próximos projetos é grande. Em 2010, o músico retornou com material novo: além do single Avua Besouro, o rapper soltou o EP Sua Mina Ouve Meu Rap Também. Tanto no single, que traz influências de manguebeat, quanto em seu novo EP, Emicida já deu pistas sobre a natureza de seus novos trabalhos e a nova orientação musical de sua carreira.

“Quando eu estava fazendo a primeira mixtape, ainda tava com a cabeça um pouco fechada, mais focada só em rap mesmo. Hoje percebo as coisas de outro jeito, então recebo influências de outros estilos na minha música”, afirmou o rapper em entrevista ao Virgula Música.

Esses novos rumos, entretanto, ainda não são o prenúncio de um álbum de estúdio. O rapper afirmou que ainda não é hora, já que as músicas nas quais está trabalhando são sobras da mixtape anterior. A ideia é montar uma nova mixtape, prevista para chegar às ruas em agosto.

Mas mesmo deixando a gravação do disco para depois, o rapper já está criando uma estrutura não só para seus futuros trabalhos como para realizar planos mais ambiciosos, que inclui estúdio e selos próprios.

No meio disso tudo, Emicida também foi convidado para gravar com o Cine. Por problema “de agenda”, não conseguiu. E lamenta, explicando que “se eu fosse fazer ia me esforçar pra fazer algo incrível com os moleques”.

Leia abaixo a entrevista completa:

Por que fazer uma segunda mixtape em vez de um álbum?

Eu estou mexendo agora em músicas que sobraram da primeira mixtape e que estou refazendo e completando. Ainda não é a hora de fazer um discão mesmo, e eu curto muito o formato mixtape, que vai direto pra rua, vende pra caramba, todo mundo tem acesso e é respeitadíssimo no hip hop. Álbum precisa ser algo grande, a partir de um conceito específico. Mixtape já é uma salada.

Nem passou pela sua cabeça dessa vez buscar contrato com uma gravadora?

Recebi propostas, mas nenhuma delas se adapta ao meu ritmo de trabalho.
O problema das grandes gravadoras é não compreender o processo de produção do rap brasileiro, dessa coisa espontânea, colaborativa, dos manos chegando e fazendo sem muita frescura. Em vez da gravadora nos conhecer antes, entender nosso esquema de trabalho e abraçar isso, elas preferem impor esquemas fechados. Aí não rola nunca.

E para o disco, você vai tentar um contrato?

Meu únco compromisso é para que o álbum saia bom. Dentro ou fora de uma gravadora. Não importa. Mas eu sempre vou respeitar o meu ritmo e por enquanto nenhuma proposta correspondeu ao que eu acho importante para a produção de um álbum de verdade.

O que nas gravadoras te incomoda além da restrição dos contratos, em relação a artistas atuais?

Tenho um sério problema com esses bagulhos fabricados, esses artistas que surgem do nada. É uma parada bem matemática, que surge porque um bando de empresários decidem que tal e tal pessoa vão estourar. Daí eles decidem que os artistas deles precisam ser bem bonitinhos, se vestir assim ou assado, cantar músicas de amor…

Com esse compromisso pela carreira independente, agora a intenção é montar um selo com todos os artistas que trabalham com você?

Exatamente. É isso que estamos fazendo: todos mundo trabalhando junto, os DJs, MCs, beatmakers, em um estúdio aqui na Zona Norte de São Paulo que todo mundo pode trampar a madrugada toda sem incomodar ninguém. E, mais pra frente, vai ser a hora de buscar alguns novos talentos que ainda não tiveram espaço e trazer para o selo também.

Pra quando é a mixtape?

Eu sei que você vai rir e dizer que é impossível, mas queremos começar e vender nas ruas ainda em agosto. Eu sei que ainda não tem quase nada gravado, mas agora a gente vai correr atrás e fazer tudo o que falta o mais rápido possível. Acho que vou fechar a mixtape com umas 17 faixas.

Qual você acha que vai ser a principal diferença dessa nova mixtape em relação à primeira? O que mudou?

Hoje eu sou uma pessoa diferente. Na época eu estava com a cabeça mais fechada pra outros estilos e tal, me focando demais em fazer direito o meu rap, mas hoje eu ouço muito samba, blues, sei lá, de tudo um pouco, sem preconceitos. Então essa mixtape vai trazer várias influências de estilos diferentes. Não que eu me arrependa de na época só ouvir rap mesmo – acho que cada mixtape e cada disco precisam registrar um momento do artista. Não tem que ir lá, mexer e tentar atualizar.

Então também mudou a maneira como você ouve rap, não é?

Na verdade, eu sou de outro rolê, sempre escutei outras músicas. Mas rap mesmo eu ouço muito nacional, não sou tão ligado nas novidades que saem na gringa. Ouço muito os manos daqui, mas não fico caçando as últimas novidades, não tenho essa vontade. Para você ter ideia, o álbum que eu quero ouvir mesmo agora é o novo do sambista Wilson das Neves.

E parcerias para a nova mixtape, está pensando em alguém?

Ainda não pensei em quem chamar, embora para a produção eu gostaria de contar com o pessoal do Projeto Nave. Colaborações ainda não sei. Eu sempre gosto de trazer gente nova ou colaborar com outras pessoas, mesmo as que fazem música de outros estilos. Fui convidado pra participar do DVD do Cine, por exemplo, mas não deu tempo, coisa de agenda. Mas se eu fosse fazer ia me esforçar pra fazer algo incrível com os moleques, algo que fizesse diferença.


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Rapper Emicida fala sobre nova mixtape e convite para gravar com Banda Cine

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