Para quem foi a um dos dois shows que o Radiohead fez no último final de semana no Brasil, existe uma reação em comum: eles foram históricos. A fim de eternizar a reação do público que esteve na edição paulistana do Just a Fest, o web designer Andrews Ferreira Guidis, de 22 anos, teve uma ótima ideia. No YouTube, foi pegando as várias gravações feitas pelos fãs durante o show e editou tudo, numa grande colagem. Ficou assim: para cada música do set list ele agrupou várias filmagens amadoras, criando um efeito de multicâmera.
Até agora, já está no ar o filmete da música Paranoid Android. A próxima será Fake Plastic Trees. Por e-mail, Andrews conversou com o Virgula e explicou mais sobre o projeto Radiohead – Rain Down, que deve virar um DVD a ser liberado para download.
Como surgiu a ideia de fazer essa colagem? Já viu alguém fazer isso antes ou chegou fazê-lo em outra ocasião?
A ideia surgiu exatamente quando estava assistindo as várias filmagens feitas por fãs da música Paranoid Android. Me bateu uma vontade de juntar certas cenas e ver no que dava. Eu já tinha visto uma ideia parecida com o Nine Inch Nails, que atualmente liberou três shows com filmagens profissionais para os fãs realizarem as edições.
Você mexe apenas nas imagens, não nos áudios, né? Quanto tempo demorou para montar Paranoid Android?
Estou editando tanto o áudio como vídeo, só que o áudio realmente é o ponto mais complicado, pois entre 10 vídeos dois têm um som bom e provavelmente serão aquele que ficarão com o volume mais evidente. No áudio é impossível fazer milagres, pois o ideal mesmo seria o áudio “soundboard”, que vem direto da mesa de som da banda. Acredite se quiser, eu levei apenas três horas (editando). Não estava dedicado a fazer um projeto “DVD Fan Made” como estou neste momento, apenas queria testar a reação dos fãs ao ver seus vídeos misturados a outros. Eu esperava abordagens mais negativas, do tipo, “não autorizei você a usar meu vídeo, pode tirar ele daí”. (risos)
Quantas vídeos você recebeu após a divulgação do primeiro vídeo? Aliás, quantos foram usados em Paranoid Android?
Nossa, estou recebendo muitos nesse momento. Muita gente ficou sensibilizada após a divulgação da minha ideia e está colocando seus vídeos no YouTube e para download, pois preferem que eu preserve a qualidade do vídeo original. Utilizei seis câmeras nessa primeira edição. Na segunda versão já possuo vídeos que mostram a galera cantando no final à capela junto com o Thom Yorke – para mim um dos melhores e mais emocionantes momentos do show (Nota do repórter: Andrew fala do final de Paranoid Android, em que o público paulista ficou cantando “rain down” – justamente o nome do projeto).
Qual a sua intenção final com esse projeto? O DVD será colocado para download? Não vai ficar chateado se ele fizer sucesso nas barraquinhas de camelô?
Inicialmente minha intenção era juntar o show que foi transmitido na TV junto com as filmagens dos fãs naquelas músicas que não foram transmitidas. Mas já estou considerando fazer um DVD com duas versões, a primeira somente com filmagens de fãs e a segunda com a transmissão da TV junto com a dos fãs. O DVD será colocado para download em torrent e outras formas de distribuição.
Não me chatearei se chegar na barraquinha. Se isso acontecer eu vou comprar um para recordação, pois acredito que para chegar nesse ponto é porque fiz um bom trabalho. Minha única tristeza será se eles ganharem muito dinheiro, sendo que nem estou pensando nisso.
Você vai deixar que outras pessoas também editem e mandem suas versões para você? Afinal, sozinho você vai demorar muito para editar 25 músicas de um show de quase 2h30, não?
Posso até aceitar, mas tenho medo do projeto se tornar algo muito grandioso e fugir do meu controle. Já vi coisa parecida nesse tipo de colaboração e no final acabou saindo em briga ou demorando séculos. Prefiro a participação das pessoas enviando seus vídeos e opinando, funciona bem melhor. Realmente será complicado fazer as 25 músicas, não estava nos meus planos, mas se for, será. Estou empolgado para editar Fake Plastic Trees para hoje ainda.
Você claramente parece gastar muito tempo fazendo isso – e sem ganhar nada. O que te motiva? É o tal espírito de compartilhamento que existe na internet, onde as pessoas trocam cultura sem nenhum interesse financeiro por trás? O Radiohead pode ser um grande exemplo disso, com o revolucionário lançamento do In Rainbows, não?
Eu estava no melhor show de toda minha vida e sem câmera. Acho que me senti na obrigação de fazer algo por aqueles milhares ali emocionados tirando fotos e filmando, sem contar que eu não podia deixar isso passar sem ter algo como recordação. O espírito de compartilhamento na internet é real, mas, infelizmente, no caso da música ela precisa ser repensada pelas grandes corporações. Acho que muitas pessoas vão me condenar por ter feito um DVD, como se estivesse acabando com o trabalho de alguém. Tem espaço para todos, e o Radiohead é o maior exemplo com o lançamento de In Rainbows. Admiro muito também o que o Nine Inch Nails está fazendo e, para mim, essas duas bandas são as que estão revolucionando as formas de distribuição na música. Espero que todos aproveitem o que estou fazendo e quando tiver sucesso com a minha banda Refink que aconteça o mesmo. Eu ficaria muito feliz em ver tal dedicação de fãs para o meu trabalho, e é nesse espírito que estou fazendo isso.